10 jeitos de derrubar o forninho e fazer de 2015 o ano da sua vida

1 – Não culpar o tigre

Vocês devem lembrar-se do incidente do tigre de Cascavel em que um menino teve o braço arrancado por um tigre após burlar (com o consentimento do pai) a distância recomendada pelo Zoológico. Pois bem, após a tragédia, houve uma comoção na internet para que o tigre não fosse sacrificado como forma de represália. Trazendo esse fato para o nosso cotidiano, note que muitas vezes transferimos nossas culpas para mundo como forma de alivio ou de fuga da responsabilidade. É aquele típico caso em que a pessoa bate a cabeça na parede e culpa a parede pelo episódio.  Assumir a auto responsabilidade ao invés da culpa (a pior das toxinas religiosas) talvez seja a forma mais saudável de lidar com uma situação de um jeito honesto sem culpar o mundo pelas suas feridas. Você, na maioria das vezes, é o grande responsável por elas, mais ninguém – nem o tigre.

 2 – Dizer não é um excelente critério de seleção afetiva

No ano que passou, por uma série de motivos, eu disse não pra muita gente. Disse não pra casamentos, lançamentos, para amigos, pra pessoas opressivas, disse não porque tive que fazer escolhas, não porque virei alguém implicante. Esse fato acabou me mostrando uma nova realidade sobre as minhas relações. Eu acho sim que as relações são pautadas em trocas (mesmo que não equivalentes) e é muito raro isso não acontecer, infelizmente. Diante dessas negativas, eu automaticamente afastei diversas pessoas que eu sempre disse sim e que diante de apenas um não, mostraram que não era bem de mim que elas gostavam exatamente, mas do que eu fazia por elas. E é engraçado como ficamos tão mal acostumados com a cortesia que em alguns casos as transformamos em obrigação. Se, por exemplo, você na sua firma traz o pó de café solidariamente toda semana quase como uma convenção, na semana em que você deixar de levar o pó, provavelmente será criticado pelos seus colegas. No fim das contas, o “não” é um poderoso agente de seleção, que mostra de um jeito nu e cru como é o sentimento das pessoas por nós, e isso não é maravilhoso? Depois de uma  porrada deles, to eu aqui feliz da vida, com os meus poucos e bons. Entenda que ter menos gente na sua vida significa que você prefere viver relações de qualidade com pessoas de qualidade.

 3 – Não deixe para amanhã o que você pode deixar pra lá

A palavra “procrastinação” nunca foi tão usada como em 2014. Não é novidade o fato de estarmos mais distraídos, desfocados, envolvidos pela oferta de atividades tecnológicas que a nossa geração oferece. Dentro dessa lógica acabei percebendo que sou um “janeleiro” dos piores. Se você também é desses que abre oito guias na sua área de trabalho e não abre mão de fechar nenhuma, bem-vindo ao clube. Mas vamos ser honestos: aquelas janelas ficam eternamente abertas porque você acha que em algum momento irá precisar delas ou terá tempo de visitá-las com calma, e isso geralmente não acontece. A partir dessa percepção e de conversas com amigos sobre o tema, cheguei à conclusão de que a maioria das coisas que a gente deixa pra depois, nós na verdade não queremos realizar. Já aquilo que costumamos priorizar é um ótimo indicador do que realmente gostamos. Então, tirando aquelas obrigações que não tem jeito, você tem que fazer, que tal começar a deixar pra lá aquilo que você vive mesmo deixando pra lá? Desapego virtual cura várias doenças.

4 – Abra mão da selfie de vez em quando e vá viver de verdade a sua foto.

Outra febre de 2014: a selfie. Eu às vezes chamo a selfie de narcisão e acho que não preciso explicar o porquê. Confesso que o exagero dele nas redes sociais me incomoda um pouco. Tipo, gente que posta três vezes praticamente a mesma foto do próprio rosto no mesmo dia. Ok, nada de cagar regras, mas que eu acho isso enjoativo, ah eu acho. Depois com a invenção do “pau de selfie” e a popularização da câmera ”Go pro” algumas fotos parecem retratar uma mesma cena:  as pessoas que geralmente seguram o suporte para a foto, parecem sempre estar subindo em um pau de sebo (ou de selfie). A dica que eu pratico, mesmo também sendo aficionado por fotos é: abra mão das fotos de vez em quando. Às vezes, a melhor foto é aquela que você não tirou. Repare em quantos momentos valiosos nós perdemos com a compulsão de tirar uma foto boa que talvez a gente nem olhe novamente. As pessoas não tem ido para Paris, elas tem ido tirar foto de Paris. As pessoas não vão ao show do U2, elas vão preocupadas em tirar uma foto boa pra colocar no Face. Quem nunca? Mas, que tal deixar a câmera de lado e clicar com os olhos, te prometo que vai ser bom.

5 – O futuro não existe.

Essa é a dica que eu julgo ser a mais importante – e também batida – de todas. Nosso pensamento dificilmente está fincado no agora. Ele geralmente está preocupado com o que faremos mais a frente. Eu, por exemplo, estou aqui escrevendo esse post, mas ao mesmo tempo estou pensando que tenho de arrumar minha mala para viajar daqui uma hora. Essas expectativas e ansiedades geram medo e negatividade. O exercício de não pensar é tremendamente complicado, mas ao mesmo tempo libertador. Eu, cada vez mais tenho a certeza de que pensar no agora é simplesmente deixar de pensar. Estar aberto às surpresas. Estamos cada vez mais frustrados porque vivemos sempre da expectativa do depois e as papilas não saboreiam, o olfato não se deslumbra, o coração não se acalma. Dizem que um bom começo para não pensar é a pratica da meditação. Que tal tentarmos pra 2015?

6 – Pare de querer ser igual à Gisele, seja apenas confiante.

Lena Dunham, a roteirista e atriz protagonista do seriado “Girls” da HBO e diversas outras correntes anti-normativas me ensinaram uma coisa pra lá de importante: parar de decidir o que o outro vai achar de mim. Se você se rejeita, possivelmente será rejeitado. No mundo real, se “auto-curtir” não pega mal, faz bem. Se gostar é diferente de ser arrogante. Arrogância é quando você se acha melhor do que os outros. Se gostar é quando você nem pensa nessa comparação externa, de tão bem que você esta com a sua aparência. Claro que isso é um processo de altos em baixos, uma parábola e não uma linha reta. Pare de querer caber no mundo, você não tem essa obrigação, você é alvo de um mercado que faz você acreditar que não está adequado a ele. A confiança é tão marcante quanto à beleza, esse é o segredo das pessoas que você julga serem feias e não entende porque vivem de mãos dadas com as tidas como bonitas. Aliás, parem de botar na conta dos gordos o que vocês magros não querem se responsabilizar. Comer porcarias ou coisas calóricas não é gordice, é gulodice.

7 – Preste atenção nas pessoas e negocie os momentos com o seu celular

Em toda parte a mesma cena cada vez mais se repete. Pessoas entretidas com os seus Smartphones sem esboçarem o menor interesse em olharem ao redor.  Eu sou uma dessas que vivia dizendo não precisar desse tipo de frescura tecnológica e que esse ano passou a ser inconveniente em encontros sociais por não conseguir ficar longe do celular por 5 minutos. E no cinema então? Gente que fica no whatssap mesmo no escuro, com o filme rolando. A tarefa de ir à caça e conhecer gente “na raça” foi substituída pelo Tinder que “facilita” as coisas com a sua oferta da melhor foto de cada pessoa e de personagens que inventamos para impressionar pretendentes. Mas, por outro lado, é inegável que o celular tenha se transformado em um tipo de companhia extremamente útil. Ficar mexendo nele para disfarçar a timidez em uma festa que você foi sozinho, colocar uma música de trilha sonora no momento em que você está na praia dos seus sonhos no seu mochilão do ano ou fazer o Waze te contar quais lugares você pode evitar o trânsito. O celular é sim um amigo, mas num precisa ser nesses moldes de grude doentio, precisa?

8 – Seu número de seguidores não te faz um Deus

Dia desses presenciei uma discussão entre a pessoa A e B. Em um dado momento da discussão, a pessoa A disse que tinha mais seguidoras do que a B e que por isso a sua opinião era a certa. Esse ridículo episódio confirma algo que eu já observo há algum tempo. Pessoas que alcançam milhares de seguidores na internet (ou nem isso) e começam a achar que suas opiniões têm um peso e uma relevância incontestável, se portam como deusas.  Antigamente eu achava que esse problema de ego era inerente apenas a artistas, principalmente atores, mas me enganei. Isso acontece com toda e qualquer pessoa que não sabe lidar com a própria vaidade. Não tem problema querer aparecer, eu, por exemplo, adoro, mas daí a desqualificar a opinião do outro por número de seguidores e não por argumentos é caso de egolatria acefalóide grave. Às vezes ter muitos seguidores não significa que a sua opinião esta acima da humanidade, pode apenas atestar uma perigosa burrice em massa.

9 – Quase toda acusação é um autoelogio.

Com o advento das eleições as redes sociais passaram a servir de palco para uma troca de acusações sem fim entre os que divergiam politicamente. A expressão “discurso de ódio” passou a ser usada para caracterizar aquele tipo de pessoa que agride para validar a própria opinião e se comporta com violência na forma de verbalizar o que pensa criando um ambiente tenso. O narcisismo ideológico das pessoas começou a ficar latente e no fim da eleição sobrou até pros nordestinos. Mas olhando de uma perspectiva maior, essa troca de acusações é notável em qualquer esfera. Virou lugar comum vermos postagens em que uma patrulha ideológica critica a outra não como um movimento de tolerância, mas como um autoelogio. As pessoas acusam e agridem para bordarem boas imagens de si mesmas sem olharem o próprio telhado. Ser ativista é legal, mas ser hipócrita não.

10 – Soltem do forninho

No vídeo da Jeovana, tudo termina com a pobre menina segurando o forninho para que um desastre maior não aconteça. Um forninho que aparentemente está a salvo , mas que uma vez quebrado vai despertar a ira da mãe das duas meninas. Mas reparem que nem o fato de Jeovana segurar o forninho contribui para que a mãe não fique nervosa. Na vida nós vivemos esse dilema todos os dias, segurar o forninho ou deixar cair? Sou partidário da segunda opção: vivemos nos adequando aos outros, tentando ser gentis, agradáveis e principalmente quando somos minoria, tendemos a nos adequar ao topo da pirâmide dos privilégios para não desagradar o padrão vigente. O resultado disso? Nenhum. Quando você não se posiciona e finge que não é com você, geralmente está contribuindo com a maioria e indiretamente concordando com o que ela faz. O vagão cor-de-rosa que quase foi implantado no metrô de São Paulo é um belo exemplo de uma maioria tentando fazer com que uma minoria se adeque, sem abrir mão do próprio privilégio. No caso, as mulheres deveriam usar um vagão separado ao invés dos homens se conscientizarem e deixarem de cometer abusos machistas em momentos de lotação ou não. Graças à pressão de alguns movimentos feministas e de setores da opinião publica, tal projeto não se concretizou. Quando eu peço para que você solte o forninho é um carinhoso pedido para que você deixe de ser adequadinho, de ocultar quem ou o que você é apenas para não incomodar seu opressor. Não é você que deve deixar de ser quem é, é o outro que tem que tolerar o diferente, deixar de ser egoísta e parar de achar que o mundo deve ser habitado apenas por gente igual a ele. Intolerância pra mim é sempre criminosa, mesmo quando não é crime.

Em 2015 faça-me o favor, solte o forninho e taca-lhe-pau!

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