7 questionamentos sobre corrigir o Português alheio em público

Sim, eu já corrigi Português dos outros, mas também já fiquei extremamente constrangido quando descobri tardiamente que “a gente” não era “agente” e eu morro de vontade de dizer isso para alguns amigos meus que estão por escrevendo tal expressão de forma errada. Mas, no meio desse dilema, penso que embora eu queira que todos falem um Português correto, tenho algumas ressalvas quanto a sair por aí bancando um professor chato, e quero dividi-las com vocês:

1 – Perto do Google todo mundo é Pasquale

É muito raro alguém ter um Português irretocável. Na era digital temos o auxílio do companheiro Google, e jogar na caixa de pesquisa para que o sistema deduza a forma correta de escrever é algo tão comum, que às vezes as pessoas até se esquecem de que todo mundo em algum momento levanta dúvidas tidas como vergonhosas pelo senso comum, só que claro, sem ninguém saber – apenas o Google. Posso afirmar que já vi mais da metade das pessoas que eu vejo oprimindo de forma hipócrita quem erra Português cometendo também erros banais de Gramática.

2 – É a língua portuguesa que nos serve, não ao contrário

As pessoas quando questionadas sobre o motivo de não aceitarem erros de Português atribuem tal fato a justificativa do bonito ou feio. Ora, sabemos bem que esse tipo de adjetivação é completamente subjetiva e relativa. Ao pensarmos que a Gramática sofre diversas transformações, e novas normas adentram ao padrão culto e outras são descartadas, concluímos que a mesma é apenas uma convenção, que a língua é dinâmica, justamente para atender a uma demanda de quem se comunica. Se o emissor consegue comunicar o que ele quer dizer mesmo errando algo e o receptor compreende a mensagem, não existe um motivo razoável para que se crie um reboliço em cima disso, uma vez que a ideia transmitida foi entendida corretamente.

3 – Achar que a forma de falar da sua cidade é a certa é preconceito linguístico

É muito comum os nativos de cidades grandes acharem que apenas o jeito de falar local, incluindo o sotaque, é o correto. O Brasil é um país cheio de pluralidades, grande em extensão, e se constitui por regiões que vivem de diferentes influências culturais. É completamente plausível que existam regionalismos e maneirismos na forma de comunicação que ultrapassam uma suposta obediência a qualquer que seja o padrão linguístico de determinada cidade mais influente. Nesse caso existe um predomínio de crença ao invés de conhecimento, e o preconceito acaba se revelando por parâmetros irracionais.

4 – Existe muito de elitismo em julgar o Português dos outros

Mesmo sabendo que deficiências no Português não são uma exclusividade das camadas mais humildes, é importante considerar que muita gente não teve o mesmo acesso que você à Escola; que infelizmente não frequentou um Colégio porque tinha demandas mais urgentes a serem atendidas, ou simplesmente não teve um ensino de qualidade. Muitas das brincadeiras depreciativas em relação ao erro de Português são relacionadas às classes sociais. Se você notar, no discurso explicativo sobre o porquê da correção, sutilmente percebe-se que os patrulheiros gramaticais pensam o erro de Português como algo vergonhoso por ser “coisa de pobre”.  E mesmo aos que tiveram todas as oportunidades: quem disse que nossas gavetas cognitivas são iguais? As pessoas não possuem memórias equivalentes, elas não aprendem de forma igual, existem palavras tidas como bobas, que por algum motivo não são memorizadas por nós na época de Escola, e não existe nenhuma lei que obrigue ou convencione a idade certa para que você aprenda uma determinada palavra. Existem também as gírias, muitas vezes tidas como tóxicas à linguagem, quando na verdade são códigos de comunicação que servem como instrumentos de formação de identidade em um determinado grupo ou espaço comum, e mesmo que se trate de um coloquialismo, como dizer que essas palavras são erradas?

5 – Quando você corrige alguém a pessoa geralmente se sente mais constrangida do que ajudada

Eu imagino que alguns vão generalizar e achar que estou fazendo uma apologia ao erro de Português, quando na verdade estou apenas propondo uma reflexão sobre os efeitos causados por quem tripudia ou alardeia em público o erro alheio. Sempre que eu vejo gente corrigindo alguém na frente dos outros, ou postando terrorismos em relação aos erros de linguagem no “Facebook”, só consigo enxergar um opressor se autoafirmando e tentando diminuir o outro, apenas para ostentar uma suposta superioridade linguística. Isso acaba mostrando apenas um cidadão tentando provar que sabe mais, para talvez alimentar as carências do próprio ego, dentro daquela medíocre lógica comparativa que fortalece uma autoinsegurança em cima de uma insuficiência alheia.

6 – Você pode aprender muita coisa, inclusive com quem diz “nóis vai”

Estamos sempre em estado de vigília em relação ao paradoxo nos outros. Costumamos desconfiar de um “Personal trainer” que é gordo ou de um pneumologista que fuma, ou de um dentista com uma arcada desarmônica. Lembro-me de uma professora no meu curso de Pedagogia – em plena Universidade de São Paulo – que flexionava frases erradas na linha “nóis vai”, e eu me perguntava como aquela mulher estava ali me ensinando sobre como lecionar em uma Faculdade cheia de exigências no quesito “competência acadêmica”. A matéria era sobre “Políticas para portadores de necessidades especiais”, e o conteúdo me foi de extrema valia, elevou meu olhar, me fez desconstruir preconceitos, agregou-me novas perspectivas sobre a inclusão e no fim do semestre me dei conta de que independente do Português falho dessa docente eu havia aprendido muito sobre aquele tema. E mesmo se sairmos da esfera dos intelectuais e pensarmos em uma pessoa de situação humilde: você acha mesmo que só porque o seu Português é falho, não tem nada o que aprender com ela?

7 – Haters, quem são?

Existe uma patrulha, que costuma cultivar um tipo de hostilidade gratuita, que vai além da importância do objeto criticado. Um “Hater” é aquele tipo de pessoa que precisar vencer discussões, e que geralmente caça assuntos polêmicos e perde horas elaborando discursos embasados, apenas para provar que está certo. Precisam chamar a atenção, mesmo que isso os transforme nos vilões da historia. Um Hater geralmente não odeia o Português dos outros, ele apenas ama odiar qualquer coisa.

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14 comentários abaixo sobre 7 questionamentos sobre corrigir o Português alheio em público

  • Aloprado disse:

    E se for no pvt?

  • Lynda disse:

    Se alguém te corrige, e você se sente ofendido, então você dois problemas a serem resolvidos : Primeiro o ego e Segundo o seu próprio eu inóspito de Eu.

  • Lynda disse:

    Se alguém te corrige, e você se sente ofendido, então você dois problemas a serem resolvidos : Primeiro o ego e Segundo o seu próprio eu inóspito de Eu..

  • Pedro disse:

    Nóis vai não dá né? Bom texto mas cheio de interrogações.

  • Roberto disse:

    Concordo em grande parte com o texto, mas há algumas ressalvas. As críticas nos fazem crescer. Não podemos dar reforço de argumentos a quem diz “nóis vai”, “menas”, ou escreve “concerteza”. Essa pessoa leu pouco, ou nunca leu. Em um país em que pouco se lê, os vilões são os Pasquales?…

    • Olari disse:

      E quem são, Roberto? Quem escreve “menas”, “nóis vai” e “concerteza” por uma deficiência de aprendizado? Não podemos incluir todas as pessoas na mesma “caixinha”. Acredito que “os Pasquales” também devem ter o bom senso para sopesar as diferentes situações. Não é dar reforço de argumentos a essas pessoas, é ter sabedoria e empatia com o próximo.

  • Grasiele disse:

    Quero falar o português correto

  • Cursos Online disse:

    Olá aqui é a Bárbara Oakley, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

  • Eu sou eu disse:

    Elitismo?
    Haters?
    Que absurdo!
    Que texto horrível

  • Gilvana disse:

    Eu amei o texto me encontrei em sábias palavras infelizmente tem muitas felicidades pessoas que se envaidecem com os erros dos outros. Empatia todo mundo tem que ter. Sempre fui aluna nota zero em português porém tenho várias habilidades de que muitos não tem.

  • Flávia disse:

    Conheço um rapaz que adora corrigir erros do outros, até por sua falta de interpretação do que foi escrito, mas sempre escreve FUDEU. Penso que se vc entendeu o que a pessoa quis dizer não é necessário passar a vida a bancar o Pascoale. É chato, deselegante e irritante.

  • Chay Barbeiro disse:

    Geralmente quando alguém corrige o erro de outro, ela só pensa em rebaixar a outra pessoa, mesmo pq se detectou algum erro, significa que a mensagem passada por aquele que erra , foi captada. Só restando o que leu, uma tentativa de humilhar de alguma forma o que escreve , já que não tem maturidade pra ficar quieto.

  • Elisama disse:

    Eu não poderia estar mais feliz em ler essa matéria. Concordo com tudo o que você disse. Tem pessoa que qd nota o erro de português trava a mente e perde uma orptunidade imensa de aprender com o outro, como ia acontecendo com você. Um texgo incrível, se deu p entender, a pessoa não tá escrevendo ou treinando p uma redação, precisa mesmo corrigi-la? Para alguns a resposta é sim, pois massageia seu próprio ego.

  • David da Silva Santos disse:

    Pronto, já deram um jeito de chamar quem faz o bem sem olhar a quem, corrigindo erros gramaticais, de hater.

    Esses dias um youtuber de renome falou várias vezes “sarcetode” e eu “pá”, “harteei” ele.

    Que ginástica fez o autor do texto em prol da ignorância intelectual…