A arte de dizer “até (nunca) mais!”

Acho engraçado topar com alguma pessoa conhecida na rua e passar só acenando. Assim, é curioso quando isso acontece e a pessoa já foi íntima, já foi amiga, já foi alguém próximo. Entende? Você faz a reflexão pra tentar entender como que aquilo de fato aconteceu, mas, às vezes, fica sem resposta. Noutras, acaba lembrando as merdas que se sucederam e prefere até tentar esquecer de novo, mas elas ficam ali, dançando na sua cara e dizendo que você cortou relações por motivos óbvios. E aí, entende-se que certas pessoas vão apenas passar, ficar um pouco e depois irão.

“Até nunca mais!”, dá vontade de dizer.

Sei que é preciso não guardar rancor. Como diz um amigo “é preciso aprender a ser melhor que isso”. E ele tem razão. Mais fácil ser educado e mostrar que o passado já não importa mais do que se deixar ressentir. Entende o significado de “ressentir” aqui, né? Ficar remoendo, deixar que a lembrança te alcance novamente e todo o sentimento ruim vivido volte à superfície da realidade. Besteira. Joga isso fora, se livra do que te fez mal. Acho que só assim é que a gente consegue seguir verdadeiramente em paz.

Sempre digo “oi”. Dou um sorriso (meio amarelo, certas vezes) e passo. Esses dias, aliás, encontrei uma pessoa que fez mal para um amigo meu. Nossa, lembro dele sofrendo, chorando e comendo o pão que o Diabo amassou por conta das sacanagens dela. Um grupo inteiro de amigos cortou relações com ela. Só que a dita cuja continua morando perto de mim e, vira e mexe, a gente se esbarra pelos hortifrutis, mercados e sinais fechados da vida. Eu olho, vejo se ela me notou, e cumprimento, assim meio de longe, só pra manter a fama de educado. Mais fácil que dar margem pra algum comentário.

Forçado, mas educado (enfatizo, pra você também considerar ser quando encontrar um desafeto).

Fico imaginando, porém, o que acontece com ex-namorados que se cruzam e, de repente, veem que já são completos estranhos. Deve ser uma sensação muito maluca. Eu encontrei poucas vezes as minhas ex, mas nunca reencontrei depois de tanto tempo que me fizesse sentir assim, um completo estranho. Você já soube tudo daquela pessoa, você já dormiu, já viu ela sem roupa, desvendou os medos, planejou sonhos, cometeu loucuras e, agora, vocês já pertencem a universos completamente diferentes. Desculpa, mas eu não consigo negar a estranheza disso tudo.

Só que a vida é assim. A arte do encontro, como diria Vinícius, que sempre complementava com “ainda que haja tanto desencontro pela Vida”. É verdade. O poeta já nos ensina que quem passa por nós, passa sozinho, mas leva um pouco da gente e deixa um pouco de si. Um aprendizado, uma lembrança, um carinho. Um adeus. Talvez seja, então, necessário viver as despedidas para entender como são valiosas as chegadas. Talvez, assim, seja preciso fazer força para manter por perto quem realmente conta. E saber deixar ir quem já não tem mais nada a ver com a gente.

Às vezes, pra nunca mais voltar.

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