A namorada perfeita

A namorada ideal te abraça como quem diz: “ok, amor, os sequestradores avisaram que vão matar todos nós e empalar os homens, mas dá cá um abraço porque eu te amo é nada mais importa”. Ela te puxa para perto quando vocês estão vendo filme como se a vida dela dependesse disso, à beira de um abismo. A namorada ideal, depois de um longo e demorado beijo, beija sua testa com os olhos fechados, como se falasse: “você não ouse nunca mais sair de perto de mim, tá ouvindo bem?!”.

A namorada ideal aperta sua mão andando na rua como se quisesse garantir que não se trata de um sonho. A namorada ideal engasga na hora de falar que te ama, mas ela nem precisa falar te olhando daquele jeito e fazendo carinho no seu rosto enquanto você cochila. Mas mesmo sem precisar e mesmo não sendo faladeira que nem você, ela se esforça, engole a timidez e fala baixinho: “também te amo”, só pra ver aquele sorriso de criança que ganhou o quartel general dos Comandos em Ação no Natal, mesmo o pai tendo falado que ele só ia ganhar um quebra-cabeça.

A namorada ideal morre de rir com qualquer besteira que você fala. Mas mesmo sendo uma besteirinha, ela dá uma daquelas risadas de criança vendo o mágico lhe tirar uma moeda da orelha repetidamente. Uma daquelas risadas que parecem que não vão parar nunca mais mesmo você achando que a piada nem foi tão engraçada. A namorada ideal não reclama quando você fica horas e horas falando sobre o mesmo assunto, como se isso ela estivesse interessada. E ela não só não reclama como presta muita atenção, mesmo você falando horas sobre a temporada de chuvas no extremo sul da Ásia durante o verão.

A namorada ideal refreia seu romantismo exacerbado e exagerado, e quando você, na segunda semana de namoro fala que quer casar, ter dois filhos (Plínio e Carla) e comprar uma pousada em Iguaba, ela fala: “eu também gostaria”, e aquele “gostaria”, que não é um “quero” tampouco um “adoraria”, te coloca no chão, e você percebe que vocês dois ainda têm muito a viver antes de pensarem nas aulas de natação de Plínio e Carla. A namorada ideal vai acabar de ler esse texto e não vai perceber que é sobre ela, e quando você falar que ela é exatamente assim, ela vai dizer: “claro que não, você é muito exagerado. Eu sou normal”. E você vai sorrir e saber que ela pode até não ser perfeita, mas é perfeita pra você.

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