Amores eternos e efêmeros

Saio pra respirar quando a tarde refresca este verão italiano. Inspiro l’amore, expiro histórias que não acontecerão. Quando há urgências do corpo nos pressionando a encontrar qualquer um, encontra-se.

Haverá aquele rapaz na fila da sorveteria, atrás de mim, com as partes laterais do cabelo raspadas e algum produto que desconheço para caracterizá-lo como James Dean, cuja respiração posso sentir na minha nuca, enquanto espremo os olhos e tento entender a escolha de seu perfume. Haverá nós dois estaremos numa vespa tomando vento no rosto, cavando ruas estreitas, antigas e calejadas de uma cidade que existe antes mesmo do mundo, me parece.

Haverá o ciclista que repercute a buzina de sua bicicleta para que eu saiba que ele passa próximo e quando passar, ele vai me olhar e agradecer – e por ser raro agradecer uma passagem, significará algo mais sublime do que apenas educação. Levaremos o cachorro dele para brincar em um dos parques para cães, espalhados pela cidade e ensinaremos o Totó a deitar, depois daremos petiscos e o cachorro lamberá a minha mão. Me sentirei um pouco dona e bastante especial.

Cruzando comigo, debaixo dos pórticos da Praça do Povo, o belo ragazzo com as barras das calças nas canelas, atento ao seu iPhone – escutando música clássica ou Queen – raspará, sem intenção, a camiseta no meu ombro. Me levará pra conhecer a mãe em Roma, onde moram todos os seus parentes histéricos, e deixarei cair um pouco de molho no meu vestido. La mamma dirá que não tem nada, não e sorrirá pra mim, dará um beijo na minha bochecha, enquanto o pai dele enrolará o espaguete no garfo com a ajuda da colher, deslizando a voz em alguma canção de Bocelli.

A caminho do mercado a céu aberto, esbarrarei nesse homem alto, com um cigarro na boca e olhos tão azuis e verticais, que me tomarão alguns segundos da tarde. Tomaremos um espresso e usaremos o wi-fi gratuito do bar. Ele me perguntará sobre a economia brasileira, se a Dilma cai, se Fortaleza é bonita como nas fotos. Pode ser que me chame para uma cerveja no fim de tarde do sábado seguinte ou para ir à praia em que seu primo gerencia um bar, mas vou negar. Negarei como todas as outras histórias. Porque estou sempre a olhar sapatos e paralelepípedos. Vivo pisando em meus sonhos praticáveis.

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