Carta aberta aos amigos viajados

Vai voar. Cê tem asa, cara. Vai lá sentir o beijo do mundo. Depois vem me contar; contar em detalhes como é o chão e o tambor da África, a chuva que cai na muralha e molha os olhos puxados. Vai ver beija-flor – se existir – na Alemanha.

Vai voar. Cê tem a chance, cara. Vai lá sentir o abraço da terra que nunca te viu antes. Pra quando chegar, contar tudo; contar se é em inglês o latido do cachorro irlandês, se dói muito cair de bike no Japão. Quando puder, mande uma carta. E-mail não vale. Quero saber como são as cartas da Rússia e se sua letra muda quando está com frio.

Daqui eu continuo refletindo no trânsito, no metrô ou no busão. Pensando que o que vejo é apenas uma parte do todo. Que o todo tem mais mundo que esse caos cheio de rotina. O todo tem trips para lugares de céu mais azul com gente que conhece muito daquilo que não conheço nada. Você tá conhecendo mais partes do todo. Admiração é a palavra.

E, voando por aí, lembra de mim. Aquele parça cheio de sonhos na arte, de desejos com liberdade. Eu, seu amigo não viajado, quero que conte como é o mundo que tem aí fora. Isso me ajuda a construir o mundo que tem aqui dentro. Dentro de mim.

Porque um dia eu vou viajar, mas enquanto eu não for, vai por mim. Cê tem asa, cara.

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