Carta ao leitor – Verdades que precisam ser ditas

Eu sempre tive medo de me justificar. Talvez não exatamente medo, mas é que a escrita cheia de desculpas e de “não foi isso que eu quis dizer” me faz querer parar de ler na primeira linha. E eu, é claro, quero ser lida até o final. Tudo que nós queremos, afinal, que alguém se importe com o que temos a dizer.

E é por isso que eu escolhi essa metalinguagem em vez de falar de amor ou criticar algo ou alguém – por que, ok, eu gosto disso também.

Essa coisa de escrever é complicada às vezes. É tipo sair de tomara-que-caia – uma hora você acaba mostrando demais. Pra escrever com a alma é preciso ser um livro aberto. E, num mundo de máscaras de medo, desnudar a alma é um ato de amor. (É por isso que eu me declaro apaixonada por quem lê.)

Mas, sabe, é complicado mostrar quem se realmente é, numa geração em que dizer a verdade é, na maioria das vezes, proibido. E escrever, ao menos pra mim, é dizer verdades.

Talvez essa verdade doa em alguém. Paciência. Eu sempre desconfiei de verdades que não incomodam. Não passam de mentiras travestidas de sinceridade. Porque verdade que é verdade dói.

O que muita gente demora a entender – como eu também demorei, confesso – é que verdades absolutas também são duvidosas, porque cada pessoa vive nos limites da sua própria verdade. E se alguém diz que os marcianos vão invadir a terra, o que diabos eu tenho que contestar? Eu posso debater – por que é saudável – mas eu não posso querer obrigá-lo a abandonar a sua verdade, mesmo que ela seja esquisita, assim como ele também não pode me obrigar a construir uma base anti-marcianos. É preciso respeitar as verdades do outro, porque são as nossas verdades que dizem quem somos. E não se pode querer determinar quem o outro será.

O foda é que, quando você escreve dizendo verdades, você encontra outras verdades pelo caminho. Verdades que são postas diante de você assim como as suas foram postas diante de outras pessoas – e essa troca é extraordinária. O respeito pela verdade do outro é o que nos permite esses contatos. Quando você baixa a guarda e deixa que o outro se mostre. Porque, no fim, as nossas verdades podem se fundir também. Ou não – e que mal há?

Interessa saber que o que hoje são as suas verdades, eram mentiras ontem – ou podem vir a ser, amanhã. Isso é evoluir.

É por isso que eu adoro as verdades postas diante de mim – desde que as minhas sejam respeitadas também. Para que eu nunca precise mentir. Para que eu nunca precise me justificar. Para que eu siga com as minhas verdades até que elas mudem e eu sorria, aliviada: Eu evoluí. Porque o importante não é estar certo. É fazer pensar.

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