“Comeu, amor?”, ou, quem ama cuida

por Léo Luz

Nós estamos acostumados a sentimentos e ações verbalizadas. “Eu te amo”, “eu vou ficar para sempre com você”, “eu nunca vou te trair”. Agimos como se palavras valessem como uma garantia, como um contrato assinado. Ele nunca vai te trair porque disse isso. Ela te ama porque disse isso. Fazemos isso porque nos traz alento, nos tranquiliza. Sabemos que a pessoa pode quebrar a promessa em qualquer momento, ou simplesmente prometer sem pretender cumprir, mas, de qualquer maneira, as palavras nos tranquilizam.

E isso se dá, em parte, porque não somos capazes de ler e entender as atitudes das pessoas, em geral. É difícil e muitas pessoas têm dificuldades em se expressar de maneira não-verbal. Mas pequenos gestos dizem muito mais do que um “eu te amo” ou um “estou com saudade”. Quando vocês se falam no meio do dia e ela pergunta, despretensiosamente, “já comeu, amor?”, vale mais do que qualquer eu te amo. Eu te amo é fácil de falar, a gente fala pro cachorro, pro amigo, pro carteiro que traz a nossa encomenda. Mas se preocupar a ponto de perguntar se você, um adulto, já comeu, demonstra uma preocupação que vai além do eu te amo.

Me comove e me deixa mais feliz um “comeu direito, amor?”, ou um “cuidado na rua porque vai chover” autêntico do que um “eu te amo” automático como quem dá bom dia. Ninguém pergunta se você comeu direito ou se você levou casaco porque vai esfriar de maneira automática, ou para agradar. Ninguém pede para você avisar quando chegar em casa porque é perigoso ou te liga no meio do trabalho pra saber se tá tudo bem “só pra agradar”. São gestos reais, verdadeiros, que fogem do automático do dia a dia. Acreditem, essas coisas nos fazem sentir muito mais amados, queridos e cuidados do que qualquer eu te amo. Ouvir eu te amo é ótimo, mas um “comeu, amor”, quando você está precisando de cuidado e atenção não tem preço.

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