De mudança do seu coração, porque finalmente… Fim

Ah! Oi, você está aí. Não havia te visto parado na porta. Engraçado, você continua com essa mania de aparecer sem se anunciar de imediato. Será que um dia vou entender isso? Bom, espero que não se importe com a bagunça. É tempo de faxina e preciso arrumar a casa. Sabe como é, as coisas andavam meio fora do lugar e pensei em começar a organizá-las. Talvez você encontre algumas coisas suas por aí, é que estou tentado separar o que é meu e o que era nosso.

Como? Aquela mala? É, acho que você me pegou. A verdade é que estou de mudança. Não queria te dizer isso agora. Tentei ao máximo não aceitar que deveria partir, mas as coisas uma hora precisavam se resolver. E olha só… estou indo antes que a bagunça fique maior. Espero que não se chateie. A nossa desorganização era até boa de manter quando ainda era nossa, mas é que hoje me dei conta que, por um tempo demasiadamente longo, passei a bagunçar as coisas sozinha. Acho que você encontrou uma maneira melhor de tocar a vida, e não te culpo por isso. Você tinha razão quando disse que minhas coisas andavam muito espalhadas. Que talvez você não conseguisse se encontrar em meio a essa confusão que eu sou. Mas acontece que essa é a versão mais genuína de mim. Quem eu seria se não fosse essa bagunça?

E tudo bem, você estava certo. Uma hora cada um precisaria seguir o seu próprio caminho. Agora estou aqui, juntando aquilo que restou de bom para que continuem sendo sempre assim… uma parte boa de você. Não são muitas coisas que pretendo levar, acho, inclusive, que elas caberiam perfeitamente só nessa minha bolsa de mão aqui. Não, claro que não. Você precisa entender, são poucas coisas mas de grande valor. Gostaria de mantê-las sempre ao meu lado. Como eu disse, uma parte boa de você.

Por exemplo, estou levando o nosso primeiro encontro nesta caixinha. Não sei se você chegou a perceber, mas naquele dia o meu coração batia mais forte do que as asinhas de um beija-flor. Aqui também estão as borboletas que dançavam em meu estômago quando nós finalmente nos beijamos. Essas são coisas que não serão mais usadas por nós, mas talvez eu saiba reaproveitá-las com outra pessoa. Pode desfazer essa interrogação na sua testa, porque também deixei algumas borboletas guardadas na sua gaveta. Espero que as use com alguém tão especial quanto você.

O que? Ah, claro… aquelas lembranças ali. Bem, confesso que fiquei na dúvida se as levaria comigo. Afinal, sempre foi tão bom reviver os momentos em que você me guardava em seus braços. Mas sabe de uma coisa? Estou montando uma casa nova e pensei que talvez a decoração deva ser outra. Bem capaz de não ter espaço para essas velhas lembranças. Acho que, neste momento, elas estão apenas incomodando e me fazendo mal por saber que nunca mais serão reais. Talvez elas devam ficar aqui, se você quiser. Mas aceita uma dica? Elas ficariam melhores fora da sua casa também. Agora elas não te incomodam, mas um dia podem vir a ser algo ruim. Espero que não precise passar por isso, afinal sei o quanto dói.

Mas olha, desistir nem sempre é tão chato assim. Às vezes abre um caminho. Confuso no início, mas com o tempo a gente pega o jeito da coisa.

Bom, acho que todas as minhas coisas estão aqui. A bagunça diminuiu, não foi? Então, agora é hora de partir, porque finalmente… Fim.

PS.: Ah, isso não é apenas retórica de texto, espero que entenda. As coisas realmente não podem continuar com vírgulas. Estou escrevendo meu último ponto final, então peço que não queira continuar essa história.

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