Dia dos namorados: você comemorou pelo motivo certo?

por Marina Melz

Não é a quantidade de corações de TNT nas vitrines, nem as cafonas e inaceitáveis sacadas sexistas da propaganda, nem os anúncios no Facebook de restaurantes buscando reservas. O que nos lembra que o Dia dos Namorados chegou sempre é a auto-avaliação de quem está num relacionamento e quer entender se há motivos para comemorar.

Estávamos passando frio e esquentando a conversa quando uma das minhas melhores amigas lembrou que vai passaria o sábado numa intensa programação de festas. Tudo para passar o domingo cansada demais para perceber que está inteira num relacionamento em que a outra pessoa está pela metade. Outra analisou os últimos anos e acontecimentos e, no ato, declarou: não sei imaginar a minha vida sem ele. Parei por 10 segundos e tive certeza que conseguiria viver sem meu par, mas a vida é tão boa assim, quando a gente namora, que não estou querendo isso aí, não.

Há casais que nem precisam assumir pra todos saberem que namoram, outros que são casados há anos e talvez nunca tenham namorado. Namoro é mais do que pedido, família, acordar junto. Namoro é conexão, troca, entrega. Namoro é o que pode acontecer com quem você acabou de conhecer ou com quem conviveu a vida inteira. É diferente de paixão, é diferente de tesão, é diferente de amor. É namoro.

Quando a gente namora, aceita o pacote completo: as qualidades, os defeitos, os cheiros, os filhos e os bichos. Não segregamos nada. Chegam aos poucos os amigos, os parentes e até os inimigos se descobrem sendo nossos, mesmo que, fuça a fuça, talvez nem tenhamos nos odiado tanto assim. Namoramos a melhor gargalhada e o pior pesadelo, os passos e descompassos, a divisão na estante entre os seus, os meus e os nossos.

O namoro não torna duas pessoas uma só – e olha que tem gente com talento para absorver os trejeitos, gostos e amores do outro. Quando se tornam um, acaba a surpresa, o encontro. O vidro da espera na janela se torna espelho e não há narcisismo que encante mais do que ver o outro no reflexo e não saber se ele vai sorrir no instante imaginado.

Quando é dois inteiros tem arranca rabo, debate de ideias, discordâncias, argumentos. Se são duas metades têm apenas variações do mesmo “aham”. Dois caminham lado a lado, metades se escoram umas nas outras. Dois poderiam viver separados, mas preferem viver juntos. Metades são condenadas ao elo eterno.

Namorados são dois inteiros, que ocupam metades de sofá, comem metades de bolo, roubam metades do colchão. Metades podem demorar uma vida inteira pra se descobrirem dois.

E aí, às vezes, não sobra motivo para comemorar. A companhia do espelho não arranca gargalhadas, não é quentinha na hora de dormir, não discorda quanto à cor do sofá, não te apresenta uma banda nova. Prefiro acreditar que todos somos frigideiras do que passar a vida buscando por uma tampa para existir.

Fica acordado assim: que o dia dos namorados tenha sido para quem entende a importância de não ser metade, mas se doa quase completamente para que um relacionamento seja feito de duas pessoas inteiras. Lá em casa teve festa.

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