Do que você gosta nele?

Há mais ou menos dois anos, depois de muito resistir à ideia, eu comecei a fazer terapia. Na época eu vivia um relacionamento bem complicado, daqueles que proporcionam muito mais aborrecimentos do que alegrias, e realmente não sabia como sair dele. Minha vida e minhas ideias estavam bagunçadas e eu tomei essa decisão porque eu realmente senti que precisava. Na vida é sempre assim; vocês sabem: ninguém faz nada senão por vontade ou necessidade. Esses são os dois motores da atitude. Essa é a realidade.

Pois bem. Assim que eu procurei a psicóloga e comecei a relatar os problemas da minha relação, ela me perguntou, na maior naturalidade no mundo, se eu gostava do meu namorado. Eu não pensei duas vezes, fiquei até meio ofendida com o questionamento e respondi um apressado “é claro que sim”. Ela nem respirou e logo de supetão retrucou: “Do que você gosta nele?”. Foi aí que eu me flagrei calada.

Fiquei sem palavras, parei para pensar e naquela breve reflexão eu percebi que não havia nenhuma qualidade nele que realmente valesse o meu afeto. Não havia nada nele que eu genuinamente admirasse. Percebi que em outro momento eu até havia gostado um pouco da relação, mas que aquilo se desfez e naquele momento não existia nada nele de que eu realmente gostasse. Foi aí que a ficha caiu. Foi aí que eu percebi que o afeto só é gostoso e genuíno quando é motivado.

Responder àquela pergunta e parar para refletir sobre tudo isso foi crucial para que eu me permitisse desfazer aquela relação que se mantinha sabe lá Freud por que. Foi só parando para pensar nas reais qualidades do outro que eu me conscientizei de que às vezes a gente se prende a um afeto de mentira que mais se assemelha a uma obsessão e que no fundo dificilmente tem um bom motivo. Foi só a partir daquela pergunta que eu me conscientizei de que o afeto só é saudável quando tem uma boa razão.

Desde então, todas as vezes em que eu me flagro em relações que estão me fazendo mais mal do que bem, eu paro para pensar naquela pergunta. É nessas horas que eu procuro me despir de toda a minha emoção e me cobrir com pelo menos uma toalhinha de razão para buscar os reais motivos do afeto. É nessas horas que eu paro para pensar se a conta fecha.  Se realmente vale a pena. Se a relação é gostosa e recíproca. Se o afeto realmente tem motivo ou é só aquele encantamento bobinho de menina ingênua.

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