Doze anos de amor

No princípio os cabelos eram outros, negros e cacheados, naturalmente rebelados e, modelados apenas pelo brilho da noite enluarada, representada pela minha tiara florida e  – como a lua – prateada. Você chegou de vez, para revirar os telhados da minha razão, remoldar os alicerces da minha alma, e mudar os rumos da minha tão predestinada vida. Éramos distintos e ainda não sabíamos lidar com as nossas diferenças. Enquanto eu estudava, você aprontava, você criava algazarra no fundo da sala, enquanto eu sentava na frente – completamente comportada. Então, as coisas que iam bem, passaram a cambalear. Logo você seguiu um caminho oposto ao meu, e as nossas vidas se descruzaram por completo, nossos caminhos se distanciaram de vez, e as nossas juras – ao que parecia – haviam se calado para sempre.

Mas no amor as coisas não funcionam como parecem. Um dia, resolvi te ligar para te parabenizar pelo seu aniversário, e o brilho da nossa voz – ainda que distantes um do outro – fez iluminar em nós, um possível novo trilho. Mas se fosse fácil era brincadeira, não amor. Num desencontro digno de filme, usamos como cenário o Parque do Povo, que para o nosso azar, estava absurdamente lotado. Eu via todos os rostos possíveis e prováveis, menos o teu. Na rádio do parque o locutor me auxiliava, dizendo que na barraca Bom te ver eu te aguardava. Mas nem bom te ver, nem mal te ver, não foi daquela vez que nos vimos.

Só que há exatos doze anos, tudo ficou mais claro, as cores ficaram mais fortes e, por destino ou sorte, o vento assoviou nos nossos ouvidos uma canção que dizia que era a nossa vez. E num dia magnífico você teve carta branca no meu coração, entregou a sua vida nas minhas mãos, abriu portas e enfrentou vendavais, se serviu de bandeja, botou a mão no fogo pela nossa paixão e, me fez perceber – enfim – que valeria a pena. Você me conquistou um dia após o outro, em cada sorriso manhoso e em cada carinho maroto. Tivemos altos e baixos – como qualquer casal – mas de que nos valeria viver o bem, se não pudéssemos enfrentar – juntos – o mal? Pois as alegrias, ainda que não venham sempre, sempre são mais importantes. São elas que nos fazem acreditar no amanhã. São elas que sempre nos mostram que o amor é tão maior que as impossibilidades, que os acertos são tão mais valiosos que os defeitos e, que os erros e os medos são – também – importantes, pois são eles que nos fazem crer que cada queda será, um dia, mais um degrau no topo da escada do nosso amor.

Você transformou o meu humor e a minha forma de ver o mundo, me fez acreditar no amor, no seu íntimo mais profundo. Te fiz enxergar seriedade quando ela é necessária e, assim, as nossas diferenças foram se responsabilizando por nos mostrar que tínhamos nos equilibrado, e que tínhamos compreendido que, para estarmos – verdadeiramente – juntos, precisamos nos manter sempre lado a lado.

E quem dirá que o futuro não nos pertence, se pertencemos um ao outro como passado e presente? Quem dirá, meu amor, que já não somos casados? O que são, então, estes doze anos juntos, senão um casamento perfeito entre a nossa vontade de viver muito, e o nosso profundo desejo de envelhecermos juntos? O que são estes doze anos, senão a determinação em busca de construirmos uma vida inteira, para que a vivamos inteiramente, diária e intensamente, em sua forma mais verdadeira?

Se eu pudesse descrever o amor destes doze anos, ele não caberia em doze linhas, nem em doze páginas, tampouco em doze livros. Se eu pudesse descrever o orgulho por estes doze anos, não existiriam horas, dias, anos ou vidas, capazes de exemplificar tudo o que posso sentir. Se eu pudesse – por fim – te descrever em doze palavras, todas elas seriam amor.

Te amo, hoje, de doze maneiras, e amarei também em quarenta, sessenta ou cem. Enquanto for possível, farei o impossível, para – enquanto durar a minha vida – eu sempre te fazer o bem.

PS: Escrito através da solicitação de Rose Vasconcelos, em homenagem aos seus doze anos de namoro com Bruno Santana e baseado no relato da própria Rose, porém, com as minhas palavras.

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