E se eu lembrar, faço o quê?

Bem, eu estive pensando bastante em nós dois. Lembrei-me daquele dia que fomos ao cinema e você derrubou toda a pipoca em cima do meu vestido branco e eu tive que tomar quatro banhos para conseguir tirar todo o sal que ficou em meu corpo – lembrei até de você me ajudando com o banho, sentado atrás de mim no chão do box e massageando minhas costas com o sabonete nas mãos. E depois de ficar a noite inteira acordada, relembrando tantos momentos daquela nossa relação de quatorze meses, decidi: eu me quero de volta.

Tá, a gente pode não se ver mais. Ok. Tudo certo. Dobre a esquina, invada outros corpos e nem fique se perguntando se eu tomei meu remédio, como vai minha avó, meu cachorro, minha faculdade, a Zélia Duncan ou todas essas questões estúpidas que você adorava me perguntar só pelo prazer de cuidar de mim e demonstrar interesse em minhas histórias. Ok, vai lá.

Mas e se eu lembrar de você até nas coisas mais idiotas?

Um chinelo virado. Alguém pedindo pizza-de-calabresa-sem-cebola. Um short antigo do Flamengo. Meias pretas por debaixo da cama. Porta do banheiro aberta. Sei lá.

E se eu lembrar, faço o quê?

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