E se o amor que a gente espera nunca chegar?

De eventualidades surgem os amores. E de amores surgem eventualidades. Terminam, somem e reaparecem como se pudessem brincar com o que a gente sente. E a gente sente tanto… E tendo somente a saudade do vivido como companhia, lembra com carinho o que já viveu, e com esperança o que ainda vamos viver. Não temos muitas opções além de ter esperança e sorrir à mercê do destino. Se é que ele existe.

Nessa noite, enquanto escrevo e tento evitar comer carboidratos antes de dormir, me pergunto como a vida seria se os dias continuassem assim, com amizades lindas, pequenas surpresas diárias e sorrisos de canto de boca, mas sem um grande amor para dividir tudo isso? E se tivermos que nos contentar em viajar sozinhos, dormir sozinhos, esquentar nossos pés sozinhos, sonharmos com uma linda história de amor, sozinhos? E se a gente tivesse que nos acalmar sem ter ninguém afim de nos acompanhar pela, tão triste, falsa eternidade?

A gente mata e revive o amor que há dentro de nós, todo dia. Pensa, em silêncio, pois não quer admitir, como os outros conseguem viver amores tão febris, e a gente, aqui, passando mais um dia em branco. Sem muito o que fazer, vemos um filme no domingo, trabalhamos um pouco mais na sexta-feira, tomamos um café com gosto de pressa na quarta-feira pela manhã e, entre momentos banais da vida, sentimos na pele a saudade de viver um amor que, como se fosse fácil, só nos fizesse sorrir.

Mesmo sendo cais das minhas dúvidas momentâneas, desconheço pessoas que terminaram a vida de forma feliz, convictas, que desistir do amor seria uma solução pertinente. Acontece que o tempo passa, e a gente fica. Pensando, esperando, vivendo, feliz, mas na espera de algo mais. Alguém para dividir o mundo, acariciar a cabeça pelo amanhecer e sumir entre os cabelos desgrenhados antes de dormir. Alguém para abraçar o eterno, mesmo que ele seja ilusório; para beijar a boca, mesmo que ela seja passageira; para rir na tristeza, mesmo que ela seja somente nossa.

Sem respostas, mas com muitas convicções, a gente procura amores e, na maioria das vezes, encontra somente bocas. Procura corações, e encontra somente olhares que, no fundo, buscam o mesmo que nós. Todos vivem em busca de um grande amor. Até aqueles que, por uma dureza claramente repleta pânico, dizem que não precisam de amor para viver feliz. Ninguém é tão superior assim. Ninguém vive sozinho com tanta gente especial espalhada por aí.

Sendo a poesia mais bonita dos sentidos, que o amor que a gente espera venha, não exatamente como imaginamos, mas como merecemos. E que, por favor, goste de viajar, pois, no auge da minha loucura pessoal, confesso que já fiz todos os nossos roteiros; garanto que vais gostar, o pôr do sol tangerina de Florença é a sua cara.

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