Eu tô indo. E dessa vez é pra sempre (ou não)

Tô indo embora da sua vida pela mesma porta que eu entrei, moreno, mas dessa vez é pra sempre.

Não, cara, não dá mais. A gente tentou, eu sei, mas foram muitas idas e vindas, sendo que em cada uma delas ficava um pedaço da gente pelo caminho. Eu tô me arrastando pra fora dessa porta, com uma vontade do caralho de ficar, mas dessa vez não. Não vai rolar.

O porteiro do teu prédio já viu nosso amor subir essas escadas com um sorriso bobo no rosto tantas vezes e descê-las aos prantos outras vezes mais, que até pegou intimidade com ele. Dessa vez eu vou sair pelos fundos, então, amanhã cedo, quando ele perguntar, diz que o nosso amor precisou partir e que vai ser melhor assim. Diz também pro seu Jair, que nosso amor mandou um abraço e desejou felicidades pela nova gravidez da sua esposa.

Gravidez. Essa palavra já mexeu tanto com a gente, moreno. Falo isso entre suspiros, sabe? A gente passou por vários sustos. Alguns por inconsequência nossa, outros por conta que o destino estava nos pregando uma peça, sei lá.

Tu lembra aquela vez que atrasou e deu positivo no teste de farmácia? Tenho gravado na minha memória cada uma das tuas reações naquela noite. Das lágrimas, da felicidade e da alegria gigante que tomaram esse apê. Você queria que tivesse o meu sorriso e eu doida pra que tivesse esses teus olhos mágicos que mudam de cor duma hora pra outra e veem o mundo de uma forma tão única.

No final das contas, foi só um susto. Ainda bem, né? Seria muito mais difícil dizer adeus com uma continuação tua em mim. Ainda assim está sendo bem foda, porque sinto teu coração, mesmo que um pedacinho, batendo junto com o meu.

As inúmeras lembranças invadiram meu peito e encheram meus olhos, mas vou parar de me alongar, pra que não seja pior pra nós dois. Eu tô indo, moreno. E dessa vez é pra sempre e pra nunca mais voltar.

Ou não.

Numa dessas voltas da vida, a gente acaba se esbarrando e percebendo que o tempo sempre tem um plano. O meu eu já falei baixinho, em segredo. Se eles coincidirem, eu te conto.

Deixa a porta destrancada, moreno. A gente nunca sabe quando o amor pode (re)aparecer pra fazer morada.

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