Fique só mais seis mil cafés

Se tudo que deixa, quando sai, é saudade: não mexa mecha alguma, fique onde está!

Fique só mais doze cafunés, cem canapés e seis mil cafés.

Fique só até acabarmos de assistir às séries que acabamos de começar.

Fique só até terminarmos de decorar o apê que ainda não começamos a pagar.

Fique só até passar a febre que acabei de inventar para que seus lábios não deixem a minha testa.

Fique só até banda passar, junto com o cometa Halley e essa obsessão que tenho pela sua companhia.

Fique só até este pedido ficar sem sentido, piegas demais para dois velhos quase cinzas.

Fique só até nosso amor perder o pique, parar de fazer piquenique e ficar, de vez, sem voz e batuque.

Fique só até que nossas filhas se tornem avós.

Fique só até que minhas ex-namoradas, todas, morram de inveja do tempo que ficou.

Fique só até a moda mudar, e o que hoje é ultramoderno começar a ser chamado de megarretrô.

Fique só até a ciência impedir que os homens, a contragosto, fiquem carecas.

Fique só até que a medicina mude de ideia, e, do nada, diga que o tabaco faz bem e que a cenoura mata.

Fique só até começar a se sentir só quando estiver só comigo.

Aí, meu bem, quando notar que essa vontade de ficar perdeu, completamente, a validade, você muda de cidade.

E fica só, até outro homem convencer você a ficar acompanhada.

Ou volta correndo só para me dizer que se arrependeu por não ter ficado.

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