Hoje é dia de Oscar, quem vai ganhar?

Meu chamego com Oscar talvez tenha começado na premiação que consagrou o filme “Titanic”. Na época em que foi exibido, o filme arrebatou todos os tipos de plateia. Era uma história de amor épica, encapada por dimensões grandiosas em termos de efeitos especiais e cuidados artísticos, além de ostentar um senhor orçamento. Pelo fato de me entediar fácil com devoções exageradas, acabei criando certa ressalva em relação ao longa. Meu apreço deu lugar a uma certa preguiça relativa à repetição e ao esgotamento do assunto. Recentemente, vivendo o sonho de pisar em Hollywood, voltei a me lembrar do filme e no quanto o contato puro com a obra havia me impressionado. Foi então que resgatei o sentimento cultivado durante a experiência em si, ignorando a esfera em volta dele. Falo da experiência real, e não das consequências da experiência.

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Anos depois, em 2006, um novo fato chamou minha atenção durante a premiação: o despretensioso e pequeno “Crash no limite” bateu o franco favorito “O segredo de Brokeback Mountain” como melhor filme. Talvez tenha sido a escolha mais questionada pelos cinéfilos durante os anos em que acompanho a cerimônia. O mais interessante é que de todas as premiações, talvez essa tenha sido a escolha que mais me agradou até hoje. O filme de Paul Haggis possuía uma trilha sonora sensorial que nos tragava para o seu universo, usava a técnica multiplot (quando as histórias dos personagens se interligam em dado momento) que desde lá me fascina e também lidava com o tema do preconceito de uma forma habilidosa, gerando contradições, não nos isentando dele. “Crash” é um dos cinco filmes da minha vida, e isso significa muita coisa enquanto adorador de cinema, já que eu nunca vi alguém favoritá-lo.

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Isso me ensinou muito sobre o que me interessava em um filme e mesmo hoje, entendendo um pouco mais sobre técnica, continuo a ser fisgado por histórias autênticas, que tenham personagens que atravessem a tela e chegam em mim. Confesso que gosto de firulas, de diálogos feitos propositalmente para nos instigar, gosto também de fantasia, de universos que alcançam minha capacidade de criar e sonhar, que me levam pra longe, em direção ao lúdico. Mas gosto também das pancadas, dos filmes que me deixam mal e que tocam nas minhas fragilidades.

Defendo que todo cinéfilo deveria exercer certo tipo de volubilidade, a capacidade de mudar de opinião e de se deixar levar não só pela experiência pura, mas também pelo entorno. Não me acho um crítico confiável já que o que me interessa quando consumo cinema é puramente subjetivo e mutável, é como um tipo de temperatura que oscila e que muda a cada momento, é uma previsão do tempo sem a menor garantia. Confesso que em matéria de cinema sou altamente influenciável, e acho isso ótimo. A técnica está ali e quanto a ela talvez eu não tenha tanto poder de influência. É o que já foi executado, está estabelecida enquanto estrutura, mas o que tem dentro de mim, o que aconteceu comigo, ah, isso é tão particular e ao mesmo tempo tão vulnerável. O que tem dentro de mim misturado a experiência, é o que realmente interessa, é quase como uma reação química. O cinema é sempre um estímulo que mexe (ou não) com os nossos repertórios, essa é a beleza, essa é a graça.

Todo ano entramos primeiramente na expectativa dos indicados. Existem alguns padrões quase que obrigatórios entre os que geralmente concorrem a melhor filme: um indie gostoso que nunca ganha, um blockbuster, dois ou três biografilmes, algum longa de temática negra e uma ou outra obra abordando guerras contemporâneas ou a Segunda Guerra Mundial. Como já sabemos, o Oscar possui um tipo de premiação altamente tendenciosa, sempre influenciada por um lobby eficiente dos grandes estúdios endinheirados e também por um júri conservador. Isso cria no mundo cinéfilo certo impulso de revolta e é inevitável não falarmos mal não só da premiação, mas também das injustiças e claro, de alguns vestidos. Trata-se de um ritual importante e delicioso.

Embora haja um grande esforço para que o humor fique por conta do mestre de cerimônias, creio que a melhor parte do Oscar seja justamente as falhas imprevistas. Um tombo semi-proposital, cumprimentos desencontrados, um discurso sem noção ou eventos “espontâneos” como a selfie das celebridades que se tornou o grande acontecimento da edição passada.

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Em 2015 temos a seguinte configuração: os nove concorrentes a melhor filme retratando figuras masculinas, deixando – infelizmente – as mulheres em um lugar secundário em esfera representativa. Muitas barbadas em termos de favoritismo, exceto nas categorias de direção e filme, polarizadas por “Boyhood” e “Birdman”. Torço por “Boyhood” embora ache que “Birdman” vence o prêmio principal e Richard Linklater se consagra levando a estatueta de diretor por “Boyhood”. Julianne Moore é disparada favorita para melhor atriz por “Para sempre Alice” enquanto Patrícia Arquette leva como coadjuvante por “Boyhood”. Entre os homens, Eddie Redmayne deve ser consagrado pela interpretação magistral de Stephen Hawking em “A teoria de tudo”, mas existe chance de dar zebra e o “ressuscitado” Michael Keaton vencer por “Birdman”. Entre os atores coadjuvantes, não tem pra ninguém: J.K Simmons por “Whiplash – em busca da perfeição” é unanimidade para triunfar. Falta pouco, muito pouco, e em dia de Oscar a minha grande expectativa é que dê tudo muito errado, a graça é essa. “And the Oscar goes to…”.

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