Meu amor eu deixo, ele sempre foi seu

Então, estou indo. Devo deixar a chave no vizinho ou você não volta aqui? Deixei aquele cobertor quentinho que você adora. Espero mesmo que não, mas talvez você precise nas noites frias. Levei todos os livros porque eu sempre me apeguei mais com eles e porque talvez precise de companhia. Mas deixo as revistas e os porta-retratos – vazios, porque agora você preenche com quem quiser. Como a sua vida: estou te dando licença e todo o espaço do mundo pra você movimentá-la, combinado?

Das nossas taças, levei duas. As outras duas continuam suas, pra você e pra as suas visitas. Continue sendo um bom anfitrião. Prepare um vinho e um sorriso pois, de longe, eu vou brindar com você quando finalmente conseguir se sentir um pouco menos perdido. Quando eu me encontrar prometo te avisar também. Seu travesseiro está na cama. Dormi com ele esses dias, então talvez ainda haja um perfume doce que sai fácil com água e sabão. Seria bom se a gente pudesse lavar todos esses erros também, né? Mas parece que dessa vez eles impregnaram aqui.

E por aí? Tudo leve? Aparece quando puder, só pra eu saber que você está bem. Só não vai ficando, porque se você ficar mais, vai levar um pedaço de mim embora. Deixei teu tapete. Ele é tão seu, sabe? É justo que você fique com ele. Mas o bar – desculpe – levei. Você sabe que às vezes eu preciso demais, e eu vou precisar quando olhar pro lado esquerdo da cama vazio. Por falar em cama, estranhei a minha. Acostumei com a nossa. Acostumei com a gente. Que bosta, né? Estou mais amarga, não sei se porque caí em mim sobre nós ou porque tenho lido Buk demais. Tanto faz.

No mais, peguei minhas roupas, meus livros, minhas bebidas e minha tristeza e estou levando comigo. Espero que por aqui só fique o que for bom. Tudo ainda está meio bagunçado. Arrume a casa e arrume tua alma junto. Levei o CD dos Beatles, o copo da nossa última festa e aquela nossa foto no litoral. O meu amor eu deixo. Esse sempre foi seu.

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