Mulher boazinha ou poderosa: quem vence a briga?

Estava na fila de uma livraria, ao me deparar com ele. Na ocasião, já tinha ouvido vários comentários a seu respeito que me deixaram no mínimo intrigada, com vontade de conhecê-lo melhor, até porque as condições eram favoráveis. “Está na promoção, então é porque é para ser”, pensei. Foi assim que adquiri meu exemplar de Por que os homens amam as mulher poderosas?, de Sherry Argov, que mais adiante lançou Por que os homens se casam com as mulher poderosas? .

Na verdade, trata-se de uma compilação de segredinhos e dicas dados por homens para as mulheres. Inicialmente, fiquei com certo preconceito por ler páginas taxadas como auto-ajuda, ainda mais quando me deparei com um impasse entre dois estereótipos – a poderosa e a boazinha – que, de imediato, fizeram me lembrar dos clichês típicos de novela. Desta vez, minha curiosidade foi maior que meu preconceito e, confesso, tive uma surpresa positiva.

O que achei de mais bacana nesta obra é o resgate do bom senso em qualquer relacionamento. A mulher poderosa não é nenhuma diva, nenhuma gostosona da TV, que passa horas por dia na academia para manter o abdômen sarado e as pernas espetaculares. Neste ponto, é gente como a gente. Provavelmente, não curte ver aquela celulitezinha do mal que brota nas pernas ou no bumbum toda vez que um biquíni se aproxima de nós. Só que ela acha que o fato de estar na praia com uma companhia agradável ou até mesmo sozinha merece mais destaque que o furinho inconveniente. Nestas horas, ela despacha logo a neura e sorri porque se acha sexy assim mesmo e não vê a hora de tomar o seu banho de mar.

E é justamente esta presença de espírito e este senso de humor que a tornam uma companhia agradável e apaixonante para qualquer cara e inclusive para as (competitivas?) mulheres. Segue à risca a filosofia de “o que é meu está guardado” e aposta em um relacionamento consistente – com uma pessoa que realmente dê provas de que está interessada nela – mas ao mesmo tempo leve, sem a urgência de ouvir o quanto antes o “quer namorar comigo?” ou ainda “vamos casar?”. Ela se entrega aos poucos, curte cada etapa, vive um dia após o outro. Evita enxurrada de cobranças e expectativas exageradas. Tem em mente que ora é a caça, ora é a caçadora, e acha este joguinho diário da conquista excitante e divertido… para ela e para ele.

Por outro lado, sabe ser decidida e firme. Não tem medo de ficar sozinha e nem deixa de sair com as amigas para viver full-time em simbiose com o namorado, assistindo comédia romântica. Reconhece que ambos têm um projeto em comum, mas devem preservar e respeitar a individualidade um do outro. Talvez seja por isso que, durante o dia, ele sinta vontade de dar uma ligada descompromissada ou cheia de segundas e terceiras intenções para matar a saudade. Ela também não se importa em ser um pouco mais flexível para ver o parceiro feliz, desde que não fira seus valores. Vive um relacionamento que não é pautado pelo feminismo, nem pelo machismo, apenas pelo companheirismo e pelo respeito.

E a boazinha? Ah, nada de novo em relação aos clichês de sempre. A mesma menininha – sim, ainda não tem atitude de mulherão – demasiadamente romântica, que continua pautada pelos velhos contos de fadas, mas carrega as neuroses da contemporaneidade. Com o celular, monitora todos os combates que o Príncipe faz diariamente no reino. Seu zelo é tamanho que, às vezes, em uma das quase vinte ligações que ela faz por dia, ele se confunde e troca o nome da amada pelo da mãe. Ah, vai, totalmente compreensível, até porque, na prática, as duas mantêm a mesma postura superprotetora com o menino dos olhos, razão da vida delas.

Obviamente, que, na prática, as duas figuras remetem à dualidade que existe dentro de cada mulher, que, por sua vez, também deve ser equilibrada para que a boazinha deixe de ser tão tola e a poderosa não seja vista como indiferente ou egocêntrica. Como lidar com cada uma destas personas, fica a cargo da freguesa, mas é inevitável – e até desnecessário – confessar que minha balança extrapola o ponteiro central e tende para um dos lados. De qualquer forma, garanto que a causa é nobre: o desejo por relacionamentos menos idealizados e mais sensatos, menos aprisionadores e com possibilidade de desenvolver individualidades em conjunto.

 

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