Não foi você quem quis saber?

Não sei exatamente o porquê de termos dado certo. Ela diz que é amor e essa explicação me basta. Talvez seja esse o segredo: não cobramos longas explicações, tudo acontece muito naturalmente. Deve ser algo da transitividade das línguas, do encaixar tão bem acertado dos corpos, da total aceitação do passado um do outro.

De você, por exemplo, ela quase não me falou.

Ela conta que teve outros, mas diz que só se exibiu durante um tempo para parentes que cobravam algum relacionamento. A seriedade, ela me diz, veio com o desenrolar dos nossos olhares e com a certeza de que já não havia mais uma certeza na vida dela. Ela brinca que eu mudei todas as perguntas e que escondo todas as respostas. O certo e o errado são julgados pelo nosso próprio discernimento. Não suportamos pitaco.

Uma vez, quando ela veio me questionar sobre envolvimentos passados, escancarei minha vida. Deixei que ela fosse mais fundo que qualquer outra pessoa já pudesse ter ido. Entreguei meus medos, desmascarei minhas vontades e exibi toda a minha loucura. Recebi de volta a aprovação sem perguntas e tudo do mesmo dela. Conheci seus lugares escuros, seus pensamentos mais impuros e, posso te afirmar, não te encontrei tanto assim nas memórias dela. Te conto isso porque você me perguntou.

Não foi você quem quis saber o porquê dela ter ficado comigo?

Não sinta nada além da alegria dela ter se encontrado. E te peço isso de maneira calma porque de nada adiantaria espernear. Você passou. Como ela também passou pra você, não foi? Nosso amor é feito uma oração na catedral: cuidamos de nós mesmos sem gritaria. Os dilemas internos são resolvidos entre nós e os gozos são sentidos pelo casal. As pessoas podem supor, achar ou imaginar o que quiserem ao encontrarem conosco, mas sempre terão de levar nossos sorrisos.

Não somos tão perfeitos assim, mas aprendemos a nos aceitar sem exigências demais. Não vou te falar onde os outros podem ter errado, mas aprendi a compreendê-la e ela aprendeu a conviver comigo. Somos o fruto de algo saudável criado para durar o tanto que tiver de durar. E, espero eu, que dure até o quanto eu durar. Não foi você quem quis saber?

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