A comédia sofisticada de Lobo de Wall Street

É inusitado, mas fiquei pensando sobre o que outro lobo (o Lobão) pensaria olhando para pra essa história. Capturei esse trecho da canção “A queda” que de certa forma delineia o itinerário do novo longa cheio de altura realizado por Scorsese:

“Diante do medo um sorriso aeróbico
Nas bochechas a câimbra de uma alegria incompleta 
Nada como um sorriso burro e paranoico
Para não perceber a velocidade terrível da queda”.

“O lobo do Wall Street” é uma comédia sofisticada, pois se trata de uma tragédia rindo de si. Poderia ser um musical em que o protagonista joga dinheiro das tribunas e dos camarotes, jorrando ostentação e orgulho próprio pra plebe. Scorsese é um cineasta que além de fazer filmes tecnicamente competentes, gosta de entreter, de permitir o acesso do grande público a sua história, sabe agradar a Augusta e o Cinemark. Nesse longa, insere estrategicamente um tom sarcástico, nenhum outro viés ali fluiria melhor, correria o risco de ser taxado de um filme “mau-exemplo” por certos recortes machistas, apologéticos e fúteis.

Scorsese geralmente usa tipos sociais amorais que cometerão deslizes graves, mas antes disso os humaniza, nos traz pra perto, e de repente estamos torcendo pelo anti-herói. No caso de “O lobo”, o diretor nos ilude com a riqueza malandra, parece que somos nós ali desfrutando daquela fartura exibida. As cenas em que DiCaprio conversa conosco em off nos tornam parte daquele contexto, somos comprados pela câmera, somos íntimos e afortunados, frequentamos iates em litorais de luxo ao som de Foo Fighters, estamos dentro das festas hedonistas e das insanas overdoses.

Leonardo DiCaprio finalmente vai longe demais, na verdade ele consegue ir mais além disso: passa dos limites. Às vezes penso nele como um calouro desacreditado tentando agradar uma academia em busca de reconhecimento, e pra isso é capaz dos maiores constrangimentos a fim de chamar a atenção. DiCaprio tem sido cada vez mais ator do que galã, nessa obra consegue “vestir” cada droga de maneira singular, cria gestuais excêntricos, mergulha em um personagem caricato, ousado,cativante e safo. Johan Hill pega carona, é um ator livre, que consegue sempre se esquivar do seu estereótipo: é hábil, versátil e cara de pau, e faz bonito de coadjuvante.

“O Lobo do Wall Street” é um grande rolezinho ficcional cheio de vitrines sedutoras, é Scorcese massageando nossa cobiça e DiCaprio dando um claro recado aos outros quatro motafuckers concorrentes ao Oscar 2014: “Esse ano o prêmio é meu, CUSTE O QUE CUSTAR.”

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