Não tenha medo da luz acesa

Você saiu da banheira de forma abrupta, de maneira acrobática aplicou um giro rápido de cento e oitenta graus e dirigiu-se ao banheiro fazendo um Moonwalk para que eu não pudesse olhar diretamente para sua bunda. Em um piscar de olhos, conseguiu esconder sua parte mais linda atrás de um desnecessário roupão. Sim, eu sei que mesmo depois de alguns bons meses juntos, fodas bem dadas, garrafas de vinho extintas e nossos suores misturados, você ainda tem vergonha de mim e, infelizmente, não consegue livrar-se do medo que tem de expor suas características humanas aos meus olhos, não menos humanos.

Pois saiba que, muitas vezes, priva-me de seus melhores ângulos como se eu fosse um crítico ranzinza do programa Ídolos e, a qualquer instante, pudesse tirar do bolso uma placa contendo a nota zero, para assim, humilhar você e fazer você sair do palco engolindo o choro. Quero que saiba, de uma vez por todas, que eu sempre aplaudirei  seus passos ensaiados e que não deixarei de te amar nem um pouquinho, nas tantas vezes que ainda irá tropeçar e cair como qualquer pessoa faz. Pelo contrário, vou sempre levantar você pelos pulsos e, quando isso não for possível, vou jogar-me no chão junto com você para rirmos da vida deitados no asfalto.

Porque gosto mesmo quando você foge do script e não percebe que está com a pontinha do nariz suja de sorvete. Adoro quando nos teletransportamos da balada direto para cama e quando lá a deixo sem forças até para tirar a maquiagem, pois no dia seguinte você fica linda parecendo uma panda de ressaca.

Quero que saiba agora, e não amanhã, o quanto eu acho você bonita mesmo quando faz careta.

Não tem ideia de como eu ficaria feliz se você, ao menos uma vez, relaxasse e soltasse a barriga enquanto comemos Doritos sentados e pelados em cima da cama. Eu não tenho nada contra as suas dobrinhas e espero também que não tema minha barriga cultivada à base de Boêmia, bordas recheadas amanhecidas e ausências na academia.

É claro que acho você uma gostosa dentro daquele baby-doll preto, mas preciso realmente que saiba o quanto adoro ver você recheando aquela camiseta velha da sua formatura do terceiro colegial.

Adoraria que você se esquecesse de pedir para apagar a luz e me permitisse devorar com os olhos cada cantinho seu – porque, afinal, se estou com você agora, significa que é com você que quero estar e que acho você linda do jeitinho que você é.

E é óbvio que aquele saltão me dá uma puta vontade de morder suas panturrilhas, mas peço que use mais vezes aquela sapatilha vermelha super confortável, e sabe por quê? Pois tenho tesão também pelo seu bem-estar e por saber que, na minha frente, em cima de mim, do meu lado e comigo, sente-se realmente livre para ser humana.

Não estou pedindo para fazer cocô de mãos dadas comigo, nada disso. Peço apenas para despir-se de verdade, que remova não apenas as roupas, mas também essa desnecessária vontade de parecer perfeita.

Comentar sobre Não tenha medo da luz acesa

  • Eliane disse:

    Maravilhoso, não tenho mais palavras…
    Simplesmente maravilhoso!!!
    Nunca ouvi, ou li, nada igual.