O charme de uma pessoa normal

Eu sou uma pessoa normal. Daquelas que se encontram na rua e que não se dá um tostão até dar uma oportunidade de sentar numa mesa despovoada de bar e conversar horas a fio. Ou nem assim, até porque hoje em dia um tostão é dinheiro, e dinheiro vale mais do que qualquer possibilidade de fazer os outros sorrirem…

Pessoas normais, como eu, como você, são charmosas. E sabe por quê? Pois cotidianamente temos que trabalhar pequenas particularidades para se destacar numa sociedade onde a marca da minha camisa e o tamanho do meu bíceps valem mais do que a sinceridade do meu sorriso e o carisma do meu aperto de mão.

Por isso sou assim, uso touca mesmo parecendo ridículo, confesso ter uma paixão arrebatadora por nhá bentas – me recuso a chamar de teta de nega, sem preconceitos, claro – e ensaio os meus diálogos que nunca serão ditos no chuveiro mesmo parecendo um retardado completo. Pois esse sou eu, e se eu perder isso vou perder o que tenho de mais importante: a minha autenticidade.

E ser um homem pleno, no meu conceito, é ser autêntico. É driblar costumes e mostrar novas variáveis com a segurança de quem já trilha esse caminho faz anos. É saber demonstrar sentimento sem parecer um inepto e ter a pegada sem parecer um maníaco sexual que acabou de ser solto da cadeia. E talvez essa seja a coisa que mais sinto falta nas mulheres – diria pessoas, mas meu foco ainda são as mulheres, daquelas desnudas, com sutiãs diferentes e vivências múltiplas, como os orgasmos que… Deixa eu voltar pro texto, pera – a falta de dosagem nos pequenos fazeres.

Não quero saber se ela é safada, se ela é uma celibatária ou se não sabe que o famoso sem orelha era o Van Gogh e não o Evander Holyfield. Só quero sentar e ser entretido divinamente, sem razões lógicas, ter aquela sensação gostosa de conforto e aconchego ao conversar com alguém que sem motivos genuínos me fascina. E esse é o charme de uma pessoa normal, conquistar alguém pelo o que se é, sem razões concretas, joguinhos ou pseudotécnicas de sedução.

Então já que estamos tão íntimos lhe contarei uma história… Esses dias eu tomei um fora de uma mulher que eu estava intrinsicamente inspirado, se é que assim posso dizer, fiz altos e baixos, derrapei nas curvas da vida para mesclar safadeza, carinho, surpresa e desatino. Sem respostas concretas, tomei um fora lindo, daqueles que me deixou com cara de entregador de pizza sem troco. Mas quem disse que esse não é o charme da vida em sua essência? Eu poderia insistir e cuspir mais alguns dizeres em minha defesa e uma possível conquista, mas optei por ficar quieto na espreita, evitando ao máximo me explicar, pois com o tempo aprendi a não tentar explicar para os outros quem eu posso ser. Cada um tem uma ótica diferente sobre cada um de nós e respeitar isso é respeitar o próximo. Esses desvios cotidianos são necessário para tornar cada vez eu mais eu, ou você mais você… Acontecimentos e desvios que hoje, me tornam cada vez mais um cara normal, simplesmente por ter conhecimentos empíricos nas normalidades da vida.

Então no auge dessa nossa conversa confesso perto do seu ouvido – aquele que sente cócegas com o alento quente e pende o pescoço para o lado oposto deixando-o vulnerável e clamando por um beijo daqueles – que sou um cara normal, como o Washington, o Wellington, o Wesley… Tudo bem, talvez eu escreva um pouco melhor que eles, mas meu abdômen não é definido, e também não tenho um Camaro, mas em compensação meu papo e meu perfume são bons. E isso já deveria ser o suficiente. Pelo menos no meu mundo de pessoas normais.

Então, o que homens normais podem oferecer são experiências, peculiaridades, vivências, sorrisos e alguns orgasmos. Na maioria deles múltiplos. Já o resto deixamos para as pessoas que ainda não sabem curtir os pequenos e deliciosos nuances de uma bela conversa regada ao melhor sorriso de todos, o nosso.

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