O dia que fui embora

Um guarda-roupa abarrotado de lembranças: eu preciso escolher entre um sapato, que odeio e aquele que você me sorriu de presente.

Saio descalça com música no ouvido pra preencher as reticências que você deixou. Pensar, hoje, torce o peito. O olhar namorando o chão. E aquele carro quase me atropela, porque me distraí contemplando ontem, quando você me presenteou com aquela mensagem comprida. E penso, enquanto meu pé esquerdo se fere numa pedrinha afiada, que eu gosto quando você me chama pro palco.

E como foi frase dura, curta – um tiro e ponto – te ver molhando o indicador com sua saliva e virando nossa página. O meu descer as escadas, olhar a placa de saída – escrita com um erro ortográfico – rodar a chave, te entregar a chave e sumir – a duzentos km por lágrima. Gasolina vazando pelas ruas do seu bairro, como se fossem sementes minhas –  na esperança de me florescerem. Um busto meu manchando a fotografia da sua janela, imagem enjoativa, que te afasta.

Buracos, buracos e mais buracos, ocos. Como minha caixa de mensagens. Como esses dias. Como minha presença.

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