O encanto de Alice

Mas o cálice de Alice ainda estava cheio. Transbordava palavras mudas que sua boca carnuda teimava esconder. Exalava um perfume de um vinho caro do cheiro raro da sua nuca.

Eu nunca havia visto alguém tão bonita com pés 35. Com algum sorriso amarelo do tempo sem sorrir. Com cabelos tão comuns como às de crianças mal cuidadas, mas lindos. Porque toda beleza vem do simples e da pura displicência em não buscar a beleza.

Teu cálice era sua bagagem. Sua mala de mão. Seu passado-presente como lembranças inesquecíveis daquela que parecia um livro fino, esquecido nas prateleiras e nos bancos do metrô. Sua pele era dura. Tinha talento à loucura.

“Você não quer brincar de viver?”, ela me perguntava.

Alice tinha olhos de presas e de predadora. Ambos funcionavam comigo.

Amei-a sob à meia luz da meia noite. Sem motivo algum aparente. Sem razão. Sem tempo para meu coração preparar um canto para ela. Alice gosta de bagunças e furacões. Não havia tempo – cedo ou tarde. O agora era o que nos movia rumo à outro agora. E eu fui.

Ousei hesitar. Mas desisti da desistência.

E o que mais me intrigava era ela saber, precisamente, de tudo que eu preciso. Possuía meu mapa e minhas coordenadas. Ou eu mesmo que me ajeitava para caber no seu norte. Não temos nada em comum. Não estava escrito que ficaríamos juntos. Mas sobre as escrituras, tem uma combinação de pensamentos: nenhum de nós nos importamos com elas.

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