O marketing da ausência

De todas as tentativas, uma eficaz: sumir do mapa, ir embora, desaparecer para que haja um hiato de quem sabe, saudade.

Na falta, existe a impermanência do que ontem parecia garantia. Achar os restos, perdidos em alguma esquina do chão da sala, lembrar que foi assim, e não é mais. A ausência faz as coisas aparecerem, importâncias adormecidas, a anestesia entre nós era o excesso de comparecimento.

Eu sumo para você lembrar, sentir, me procurar. (Será que estou mais magro?). Acho um charme a fuga sem rastros, deixar fotos de paisagens, sem marcação de paradeiros no Instagram. Essas pessoas que de repente somem e a gente fica adivinhando por onde andam, como nessas reportagens sobre ex-famosos que começam com o “por onde anda…”. Quem sabe mudar de nome, de cidade, abandonar-se em um ostracismo estratégico, Alice em “Closer – perto demais”.

Tenho uma queda por quem não tem Facebook, pelas exceções, pelo frescor de não imaginar alguém sentado em uma cadeira o dia todo pensando em frases geniais. Eu ainda não sou esse, porque sou carente, porque eu tenho medo de Domingo, por onde anda Ana Paula Arósio?

Esse sumiço que pressupõe renovação, essa minha mania de postar em pausas, deixar por dias o mesmo último texto na timeline, sem update, sem novidades, o sumiço estético  transformado em abstinência. Isso de ligar a antena de transmissão – da dedução -, catalisar a saudade de alguém, promover a ressurreição da importância, mandar notícias – lá de Júpiter.

Não estou mais em todas as festas, sou aquele que não foi, sou aquele que tinha algo mais importante, mesmo não tendo. Minha lanterna é pura atenção para pessoas ocupadas. O marketing da ausência é um preenchimento à distância, é o seu vazio procurando por mim.

Aviso: esse método alcança o seu grau mais eficaz quando você não consegue mais adivinhar nem os meus esconderijos.

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