O que podemos aprender com o beijo gay no horário nobre

Depois de alguns milhões de beijos entre pessoas do mesmo sexo nessa nossa novela da vida real, finalmente tiveram a coragem de estampar isto – ao vivo e em cores – na telinha mais idolatrada do Brasil.

Há quem diga que isso não é lá grande coisa – afinal, é só uma novela. Eu, por outro lado – apesar de não ter acompanhado a trama – fiquei feliz pra caramba em saber que um beijo entre dois homens foi exibido no horário “nobre”, pois, sim, isso é grande coisa.

A TV aberta é um dos mais eficientes veículos de comunicação para o grande público.  As grandes emissoras encarregam-se de exibir o que a sociedade quer ver – e, sobretudo, o que está pronta para ver. Exatamente por esta lamentável realidade é que o beijo gay tardou tanto.

Demorou, mas aconteceu. E foi lançado na cara dos preconceituosos que, até então, mantinham-se a salvo daquilo que chamam de “mazelas da sociedade”, com suas bundas pregadas em frente à TV, vendo o casal de jovens heterossexuais, brancos, magros e bonitos terem o seu final feliz. A homoafetividade – ou homossexualidade, porque pouco importa o nome que se dá – saiu do anonimato e veio pra tomar o lugar que é seu de direito – as telinhas, as telonas, as praças, as igrejas, as filas de supermercado e todo e qualquer lugar onde couber o amor.

Um beijo que, embora represente, como outro qualquer, pura e simplesmente o amor entre duas pessoas, fez história por que mostrou a uma sociedade hipócrita que não há mais como fingir que as minorias não existem. Não dá mais pra discutir se o amor entre duas pessoas é certo ou errado – porque, façam-me uma garapa, e amor lá se discute? Não é mais uma questão de opinião, de discussão, de aceitar ou não aceitar, de respeitar ou não respeitar. Isso não é mais uma escolha – e é isso que os “defensores da família” precisam compreender: o amor alheio não está mais sujeito a nenhum julgamento. O direito de amar está sendo, gradativamente, concedido a todos que assim desejem, com todas as implicações que isso traz – desde a regulamentação civil à representação artística e televisiva. Ainda estamos longe do ideal, mas começamos, plenamente, a fazer jus àquele trecho de música de Lulu Santos que nunca antes fez tanto sentido: consideramos justa toda forma de amor.

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