Pelo direito de ser cafona

Houve um tempo em que se tinha que ser igual a todos para ser aceita. Sabe aquela coisa padronizada? Tipo, se fulano usa calça azul royal, eu precisava ter aquela calça para poder pertencer a determinado grupo. Naquela época, tudo era fácil. Tinha alguém para admirar e seguir. No meu caso, eu copiava uma colega de aula que, por sua vez, copiava as Spice Girls. Ah, como era simples e divertido!

Eu usava a mesma saia e o mesmo tênis de plataforma que todas as outras meninas. Cheguei a pintar uma mecha do meu cabelo de vermelho só para parecer um pouco mais com a Geri Hall. Eu tinha uns 10 anos. Minha geração cresceu, mas esse hábito de padronizar o visual continuou existindo. Maior exemplo disso são os blogs de moda e seus looks do dia cheios de “mais do mesmo”. As blogueiras vestem e todo mundo copia. Certo? Errado.

Na verdade, existe o outro viés da história. Ser igual a todo mundo está ficando cafona. Não. Perdoe a franqueza. Já é cafona. Ter cabelo loiro e comprido como o da Barbie, namorar o cara bombado da academia, vestir calça listrada, usar sneakers, pintar as unhas decoradas, combinar a maquiagem com a cor do vestido, usar bota para fora da calça jeans, dançar a música poderosa, e reflexiva, da Anita. Isso tudo está fora de moda simplesmente porque virou moda e todo mundo usa.

Aí, para ser aceita é preciso ter personalidade forte e ser autêntica. Quer dizer, nesse meio tempo houve uma invasão de pessoas que não ligam para a opinião dos outros. Elas são o que querem ser. Não ligam se estão abaixo ou acima do peso. Se têm tatuagens de mais ou de menos. Se têm nariz grande ou pequeno. Elas têm uma baita autoestima. E o discurso delas é forte e sedutor: seja diferente, seja único, seja você mesmo. Bonito isso, não é? 

Lindo. Mas vou confessar: sinto uma pressão filha da puta para eu ser eu mesma. E se eu não for assim tão diferente e extraordinária? E se eu quiser ser apenas comum? Quem sabe o meu “eu mesma” tenha uma baita vontade de ser igual a todo mundo e ficar meio camuflada na multidão.

Eu quero o meu direito de ser cafona! O direito de me vestir como milhares de outras pessoas se vestem. Eu não quero ser original. Eu não quero ter que descobrir uma banda nova todos os dias, eu quero ligar o rádio e cantarolar a música mais tocada do verão. Eu não estou interessada em ter um animal de estimação exótico, pra mim um cachorro poodle já está ótimo. Eu não preciso viajar para lugares inexplorados, pelo contrário, quero ir pra Miami e Roma sem culpa. Eu não estou a fim de ser a primeira a vestir uma roupa de um estilista desconhecido antes dele ficar famoso. Isso é muita pressão.

Eu quero ser mainstream. Eu quero entrar na Zara e comprar o que estiver no manequim. Eu quero ser o estereótipo da patricinha com meus cabelos de mechas californianas iguais a todo mundo. Eu quero vestir saia e regatinha na balada como – quase – todas as outras mulheres vestem. Então, tenho um pedido. Por favor pessoas autênticas, vão ser vocês mesmos e me deixem em paz. Me deixem ser igual. Me deixem ser cafona!

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