Permita-se sentir

Hoje, uma frase ecoou pela minha cabeça o dia inteiro. Sabe aquele tipo de música chiclete que gruda na gente e não quer sair por nada nesse mundo? Então. Foi assim desde que li “permita-se sentir”. Aquilo me sacudiu por dentro. Foi como se alguém estivesse apontando o dedo na minha cara e me obrigando a abrir as cortinas para deixar o sol entrar aqui dentro do peito.

Uma frase tão curta, tão simples, mas de um significado tão grande… Se permitir sentir. E foi aí que eu me vi como uma jaula de sentimentos bons. Me enxerguei como alguém que estava mantendo em cárcere privado o bem-quer. Que tinha sequestrado o amor e só queria como resgate a garantia de que não fosse doer. De novo.

A vida estraga a gente. Ou melhor, as situações que experimentamos. Vamos amadurecendo, ou pior, criamos medo de viver por receio da próxima decepção. Da próxima desilusão. É que a dor de um coração partido não é física, não é aparente, vai além de tudo isso. É um corte de navalha na alma. Que apesar de não sangrar vermelho, tem cor do sabor amargo de lágrima. E só quem sente é capaz de perceber. De notar. De fazer sarar.

E eu fiz. Custou muito, mas hoje já me sinto inteiro novamente. Carrego comigo algumas cicatrizes que soam como um troféu de guerra. Que servem para mostrar para mim mesmo que eu já estive num campo de batalha, duelei contra gigantes, mas saí vitorioso. Venci um amor. Mas não estava preparado para o golpe de misericórdia – me apaixonei por você.

Engraçado, uma frase tão curta, tão simples, mas de um significado tão grande, que grudou em mim e me fez perceber que – amores impossíveis nascem na gente para provar que ainda é possível amar alguém. E eu sorri pensando nisso. Quando, em toda a minha história, achei que fosse sorrir depois de chegar à conclusão de que havia me apaixonado de novo por alguém?

Mas você não é “qualquer alguém”. É um sentimento platônico que eu quis cultivar. Que eu quis ver florescer sem sequer perceber. Sem notar que aquilo crescia em mim com uma força absurda. Que seguia na contramão das chances de ter seus beijos, suas mãos nas minhas, seus olhos fechados encostando em minha pele. Me fazendo arrepiar… É. Eu sei que não vai dar. Que é viagem da minha cabeça.

Um louco, recém-apaixonado, que te envia tarde da noite uma mensagem, se declara, mas se auto-responde com um sonoro não. Eu sei que você vai rir. É o mínimo que pode fazer a essa altura do campeonato. Mas, se me permitir te dizer mais algumas coisas, quero te fazer um último pedido: Eu sei que a hora não é boa. Sei também que o nosso encontro não era para agora. Mas… me deixa sentir. Não me obriga a matar isso que carrego dentro de mim. Ainda que não seja recíproco, me permite reaprender a sentir.

Eu sei que não vai dar. Que não existem chances reais de sermos um casal. Mas jurei tanto para Deus e para mim mesmo que nunca mais amaria alguém, que quero agora ir até o fim. Passar por todas as etapas, ciclos, sair fechando todas as portas. Quero que dessa vez esse amor passe sem doer, para varrer todos os traumas que outras paixões me deixaram.

Sei que parece piada, mas quero te usar como remédio para a minha alma rasgada. Sei que é possível vencer mais essa batalha. Esperar a hora certa de uma outra chegada, para que juntos, eu e essa outra pessoa, possamos celebrar o reencontro de um amor que já tinha hora marcada.

Se não for pedir demais, se não tem a intenção de me guardar perto dos sentimentos bons que você também carrega por aí, não me oferece nada. Nem compaixão. Eu só preciso ir até o fim para provar para mim mesmo que sou capaz. No mais, queria que você ficasse sabendo. Para que isso ficasse ainda mais claro para mim mesmo. Estou apaixonado. É impossível. Mas é a minha chance de reaprender a sentir. Ainda que sem ti.

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