Porque você deveria se render aos encantos de Céu

Foi num daqueles dias em que você coloca algo para tocar e vai fazer outra coisa. Só como trilha sonora, mesmo. Sem prestar muita atenção. A maioria das músicas se contenta em ser pano de fundo, mas não as especiais. Três minutos depois, olhei para a TV que exibia a foto – a linda foto – de Céu e me peguei falando em voz alta, quase sem querer, como a mais autêntica pisciana-no-mundo-da-lua: PUTA. QUE. PARIU.

Era fantástico. Era fantástica a musicalidade, no sentido mais técnico possível, seja lá o que isso signifique. Era fantástica a voz que toca alguma coisa em você que, até então, você nem se apercebeu que existe. Mas era fantástico mesmo o modo como aquela mulher se relacionava com as canções. Era algo quase sexual. Mulher e música se misturando de uma maneira que só verdadeiros artistas são capazes. E de um jeito manso, sereno, natural. Celeste. (Não dá pra não fazer um trocadilho tão óbvio e tão providencial, desculpem).

Céu faz mais do que cantar bem. Ela vive a arte como poucos conseguiram. Ela brinca com a música, tamanha a intimidade entre ambas; toda perfeição técnica se torna desnecessária perto da habilidade com que ela lida com a musicalidade que nasceu consigo.

Uma voz que transmite aquela paz que a correria cotidiana nos rouba. Daquelas vozes que se pode ouvir por horas – dias! – a fio sem cansar. Que combinam com dias ensolarados e lugares tranquilos. Daquelas músicas pelas quais vale a pena quebrar os silêncios mais confortáveis.

E como se não bastasse, compõe aquelas letras certeiras que traduzem sentimentos abstratos que só se concretizam através da arte. Rimas soltas e ainda assim riquíssimas. Daqueles versos que fazem com que a gente se reconheça, exatamente como toda boa arte tem que ser capaz.

Céu nos propõe um minuto de paz, uma introspecção leve e musical, uma viagem natural para dentro de si mesmo. Uma música que não precisa de técnica quadrada porque se permite ser arte, pura e simples, daquelas que fluem mesmo sem métrica perfeita – e toda a métrica perfeita que suas músicas apresentam é mera consequência. A linda promessa da nova música brasileira que vem se cumprindo a cada acorde.

Minha beleza não é efêmera
Como o que eu vejo
Em bancas por aí
Minha natureza
É mais que estampa
É um belo samba

Fiz minha casa no teu cangote
Não há neste mundo quem me importe
Pra sair daqui

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