Repita comigo: amor sobrevive ao caos

Depois de ter vivido uma quantidade razoável de relacionamentos amorosos me peguei pensando na frase que eu sempre ouço das pessoas com quem me relacionei. “Eu queria te agradecer, pois em um dos momentos mais difíceis da minha vida foi você quem esteve do meu lado o tempo inteiro”. A primeira vez que ouvi essa frase eu sorri, porque sabia que era verdade. Mais de um ano se passou e eis que a ouço novamente, com quase as mesmas palavras. O sorriso, dessa vez, foi diminuindo. A frase me fez repensar.

Por que eu tenho de estar com as pessoas em seu momento difícil, sendo que o meu começa no instante em que elas vão embora? O meu eu passo sozinha em meu quarto, sentindo o peso de lágrimas silenciosas. E talvez isso seja um erro enorme, pois só quero pessoas por perto quando não estou distante de mim mesma.

Talvez seja carma, porque lido bem com fases difíceis, desde que não sejam as minhas.

Tenho medo que meus monstros tirem o sono de alguém que amo e, pelo medo, me esqueço que relacionamento é partilha. O amor sobrevive aos períodos de caos.

Ontem, mais uma vez, ouvi um agradecimento pela minha presença num certo momento complicado. Dessa vez foi diferente, porque a frase não foi dita tempos após um término. Não houve término. Só o agradecimento. E eu não temo uma despedida posterior a ele, porque tenho pra mim que mereço passar por uma fase difícil com alguém e chegar à leveza de uma manhã de domingo.

Sou do tipo que tenta diminuir todo e qualquer problema meu para que o do outro tenha espaço para ser dividido comigo. Relacionamento é partilha. O amor sobrevive aos períodos de caos.

Mas isso não quer dizer que ele não aguarde ansioso pelos momentos de paz.

Repito diversas vezes para que essa verdade se entranhe em mim. Não adianta escrever palavras bonitas se não as pratico. Preciso parar de ser tão dura e cruel comigo: eu posso me permitir ser cuidada e amada por alguém.

Por isso, decidi que não ouvirei de pessoas que não estão mais em minha vida frases de agradecimento por eu ter compartilhado algum momento ruim e tê-lo deixado mais leve. Eu só aceito ouvir isso quando alguém me chamar para ver de perto seu sorriso solto depois da tempestade que, por vezes, escurece o tempo lá fora. Ver o sorriso e viver junto a causa dele. Quem sabe até ser sua causa.

Mas eu também só ouvirei essa frase novamente no dia em que eu me permitir partilhar meus silêncios com quem se dispõe a entendê-los. E por que não partilhar os gritos?

Há dias que atingimos nosso limite. É como se estivéssemos na beirada de um penhasco com a respiração ofegante da corrida até ali e todo o peso das nossas angústias fossem expulsos de nós através de um imenso e reconfortante grito. Lá embaixo, só existe a imensidão para nos mostrar que até nossos maiores problemas podem ser pequenos. Então, por último, uma mão descansaria sobre nossos ombros cansados e uma voz conhecida e tranquila nos diria com certeza que tudo ficaria bem.

Relacionamento é partilha. O amor sobrevive aos períodos de caos.
Repito. Repito quantas vezes for preciso.

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