Se beber, se arrependa (no dia seguinte)

Nesse final de semana, tive a leve impressão de ser uma bêbada chata. Bêbados da categoria chatos fazem comentários descontextualizados durante conversas etílicas; comentários sempre escoltados por silêncios constrangedores, quer dizer, um pouco constrangedores, já que todo mundo tá sempre tão bêbado que talvez nem tenha sensibilidade pra assimilar que o comentário foi realmente fora do eixo. Sabe quando alguém corta o papo pra falar de algo nada a ver ou, no pior dos casos, falar de si mesmo. Bêbada, chata e histriônica: ingredientes da poção mágica que obrigam meu bom senso a desistir de alguém (de mim, no caso do fim de semana)

Saudades de quando minha ressaca moral aparecia no meio da manhã esfumada em rímel preto e bafo de cevada, pra me lembrar de que caí no chão da pista de dança e era por isso que meu pé doía – inchado, luxado, quebrado. Saudades.

Pulo da cama, com o coração agitado e ansioso, me perguntando por que meus amigos ainda não me abandonaram. Como aguentam minhas cambaleadas e o ritmo frouxo que minha voz ganha depois de esgotar oito latinhas ou uma garrafa (imaginem o que pode encostar em mim dali em diante?). Bêbada, chata, histriônica e pomba-gira. Quando bebo, quem me rege é alguém que prefiro esconder debaixo do criado-mudo.

Acho que gente assim – assim como eu acho que sou – ficam sozinhas. Pra sempre. Amarrem a minha boca, esvaziem minha carteira. Me façam pagar um real para cada olhadela que eu der para cartazes de cerveja, panfletos de cursos de vinho, engradados (mesmo os de refrigerante). Não me mandem áudio daquele “tsss” sedutor que faz a minha brejinha, toda vez que se abre.

No dia seguinte me debruço em pensamentos. Em análises do que devia ter falado, do que não devia ter feito. Me arrependo por amolecer a alma, costurada de inveja, bondade, mentira, otimismo. De não ter controle. De ser eu mesma. Bêbada, chata, histriônica, pomba-gira e maria-arrependida.

Preciso parar. Preciso parar. Preciso parar de beber.

Ou… Só preciso acabar com o drama (esse sim, chato) que faço todo dia seguinte. Preciso bater na minha cara, olhar na fuça de cada um e dizer que é o que tem pra essa vida. Que sempre estou feliz quando me liberto pra ser a bêbada, chata, histriônica, pomba-gira, eu mesma, nem aí. Preciso parar de me arrepender. Mas passa. Na quarta-feira, sempre passa.

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4 comentários abaixo sobre Se beber, se arrependa (no dia seguinte)

  • Walquiria disse:

    Bom dia! Bom, é segunda-feira. E você descreveu exatamente o que estou sentindo. Queria que fosse a primeira vez, mas vem de tempos esse sentimento.
    Horrível, um lado de mim, tenta achar normal, que todos mudam com bebida, que se soltam. Mas não sei se quero ser quem me transformo.
    Por um período, fiquei sem beber, achava que tudo estava realmente melhor. Menos arrependimentos pelo menos. Mas, pelo convivência com pessoas que bebem e eventos com bebida liberada, acabei voltando.

  • Luiz Reginaldo Gabriel Guimarães disse:

    Hoje é sábado. Queria não ter dito o que disse e queria ter dito algo que nem sei. EU até tentei converter antes desconhecidos na religião que me fez ficar sem “vícios” por 18 meses…mas não é me viciando que eu vou dar um bom exemplo. Talvez se arrepender seja algo natural, mas fica mais evidente e intenso quando bebemos, pois temos a plena convicção de que isso é plenamente errado. Mas….contudo, todavia, sobretudo, porém….há um resquício de sabedoria em dizer que pior seria ficar a noite num quarto, sozinho, esquecido, rejeitado, inexistente. Sim, bebo, logo existo. Bebemos por que temos sede de calor humano. Ouvir você falar de si mesma não é perda de tempo. É humanidade. É amor.

  • Rubens Soares Junior disse:

    Depois de beber no dia seguinte muitas coisas não lembro,fico arrependido com sentimentos de culpa por que ?