Será que eu já amei?

Se perguntarem se eu já senti raiva, eu reunirei minhas mais enfurecidas lembranças e entoarei um sonoro e bufante “com certeza”. É claro que já senti. Eu conheço a raiva de perto. Já a experimentei centenas de vezes. Sinto raiva sempre que perco o ônibus, levo um tombo ou encontro roupas minhas no armário da minha irmã. Sou íntima da raiva. Conheço seus sinais. Sei que minhas mãos ficam trêmulas, a voz embarga e eu perco alguns bons segundos de bom senso e paz.

O mesmo vale para o medo, a alegria, o ciúme e até para a paixão. Conheço intimamente cada um desses sentimentos. Sei de pronto, sem titubear, quando começo a me alegrar ou apaixonar. Sei quando o ciúme me invade e até quando a inveja, tão evitada, me abate. Reconheço todos os sentimentos com destreza mas se perguntarem se eu já amei, eu direi, cheia de dúvidas, que não tenho certeza.

Confesso que às vezes me flagro desconfiando do amor. Sei que sentimento é coisa abstrata, mas que sentimento é esse que não se explica em meia dúzia de sinais? Sei que não existe sentimento concreto, mas por que ele, logo ele, o amor, precisa ser tão incerto?

Há quem confunda amor com paixão, dor e até obsessão. Há quem diga que só amou verdadeiramente as pessoas por quem sofreu. Há quem diga que amou mas acabou e há quem diga que amor verdadeiro não tem fim.

Eu, sinceramente, não sei se já amei. Só sei que dos sentimentos, o amor é mais incerto. O menos concreto. O a descobrir. Sei que se é bom sentimento, não deveria dar espaço para angústias ou agonia. Sei que há muita gente confundindo amor com sentimentos que definitivamente não trazem paz e alegria. Sei que se acontecer, eu espero reconhecer. Amor é a incerteza que eu espero viver.

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