Sua desilusão não foi por amor, mas pela economia de amar

Os apelos de ajuda mais fervorosos são daquelas pessoas que se sentiram rejeitadas, deixadas de lado e se arrastam como zumbis pelas grandes cidades alegando terem se tornado traumatizadas do amor.

Trabalhei muito tempo com pessoas com câncer em estado terminal e notei uma coisa, o luto mais dolorido costumava ser daquelas pessoas que viveram pela metade e tiveram relações truncadas, difíceis, disputadas e até competidas. Aquele tipo de pessoa que pula no caixão da outra pedindo que não morra e que volte para os braços é tipicamente uma última manifestação de carência, egoísmo e apego. Esse tipo de história é sempre aquela que não acaba bem, com acusações variadas e sangue nos olhos.

A dor da pessoa traumatizada de amor é desse tipo, ou seja, de quem acha que viveu de peito aberto, mas que lá no fundo já tinha medo de ser deixada, abandonada e rejeitada. Não foi desprendida, nem leve, foi cobrando, insistindo, forçando a barra e por isso mesmo afugentou. É como uma profecia autorrealizadora, quanto mais teme perder alguém mais age de forma instável, paranoica, crítica e por fim incita o mal-estar derradeiro do abandono.

Quem viveu de verdade, sofre o luto como uma facada única. No seu silêncio sentido a dor vai rasgando como uma seda que chora e sorri simultaneamente e atesta que ali bateu um coração por inteiro, de verdade, sem medo. Esse luto vem, fica, vai e deixa um calor e só. O medo de sofrer do traumatizado é de quem se reconhece (ainda que não admita) acovardado ou retrancado. É aquela pessoa que nunca declarou amor sem reservas ou fez planos sem amanhã. O amor de quem ama é aquele que parece de verão, sem garantias.

A maior parte das pessoas ama como se fosse primavera, outono e inverno, sempre pensando na contrapartida, na reciprocidade, na garantia de que o amor estará ali disponível no dia seguinte. Esse amor medroso costuma custar caro, o da inevitável solidão. No final o desiludido ainda brada por todos os cantos:

“do que adianta se entregar se no final acabo sofrendo”.

Não meu jovem, sua desilusão não foi por amor, mas pela economia de amar com medo.

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