Toda mulher poderia ser mais feliz

Existe uma verdade inegável e ao mesmo tempo dolorida que nos rouba felicidade todo santo dia: mulher é bicho desunido. Eu jamais acusei de machismo quem um dia despejou essa verdade na minha cara, porque ela é perfeitamente observável. Em vez disso, admiti, vergonhosamente, pra mim mesma essa nossa fraqueza, e luto contra ela cada vez que bate na minha porta.

Isso não significa que não saibamos ser leais: somos companheiras e amigas como ninguém. Nossa sensibilidade genuína nos torna melhores ouvintes e conselheiras, e a nossa lealdade vem sempre de bônus quando amamos alguém. E, sim, somos capazes de cultivar amizades verdadeiras com outras mulheres.

Mas, convenhamos: isso não torna injusta a acusação de que somos uma classe desunida – porque não estamos falando do nosso comportamento em relação à nossa melhor amiga, à nossa colega simpática ou àquela tia velha e legal. Estamos nos referindo ao nosso comportamento em relação a todas as mulheres.

Estamos falando de todas as vezes que falamos mal da vizinha gostosa: “Ela é uma vadia. E você viu quanta celulite? Deus me livre!” Ou quando declaramos guerra a qualquer ser humano do sexo feminino que mantenha alguma relação com nossos namorados, ficantes, companheiros, peguetes ou futuros: “Não vê que ela dá em cima dele descaradamente? É uma vaca!” Nem a atriz linda e talentosa – e que nunca nos fez mal algum, até porque nem faz ideia de quem somos – escapa da feracidade da nossa desunião: “Ela é bonita assim pois é rica, queria ver se tivesse que ralar, como eu.”

Embora essa realidade seja mesmo dura e difícil de admitir, é preciso ser coerente: você já viu algum homem falando mal de um desconhecido? “Aquele tira onda de pegador mas é o maior forever alone.” “Ta vendo aqueles músculos ali? Ele toma bomba. E dizem que tem o pau minúsculo. “ “Aquele cantor que você acha lindo é o maior otário, amor, usa até playback!” Sem generalismos desnecessários, temos que confessar que essas frases soam um tanto quanto esquisitas aos nossos ouvidos, porque são, verdadeiramente, muito pouco comuns.

A insegurança de algumas mulheres nos relacionamentos – e na vida, de um modo geral – as torna viciadas em competir, e, consequentemente, maldizer gratuitamente outras mulheres.

Toda mulher poderia ser mais feliz se ocupando em cuidar de si mesma em vez de comparar-se com outras mulheres. Seríamos mais livres para sermos quem somos sem a preocupação imbecil de não sermos “mal vistas” e “mal faladas” pelas outras mulheres. Nos vestiríamos apenas para o espelho, – e não para impressionar umas às outras – teríamos mais amigas (e melhores), seríamos mais seguras e tranquilas, pela simples certeza de que temos respeito umas pelas outras. Porque se mesmo desunidas e ainda oprimidas conseguimos conquistar tanta coisa, unidas seríamos, sem dúvida, um verdadeiro perigo.

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