Três mulheres: passado, presente e futuro

Luisa, Eliza e Ana Maria têm idades diferentes. São 5 anos, 2 primaveras e 1 mês, respectivamente. Pra qualquer um, são crianças que descobrem o mundo – cada uma na sua fase e ao seu jeito. Em mim elas provocam, entre brincadeiras e choros, um transporte ao passado e uma preocupação imensa com o futuro.

Se tivesse nascido na mesma época que eu, por exemplo, Luisa provavelmente seria a única menina do colégio particular com cabelos encaracolados e pele morena. Quando seus cachos começassem a se formar provavelmente seus coleguinhas estranhariam aquela modelagem. Ao invés dos elogios rasgados aos seus caracóis como acontece hoje, provavelmente ela seria rodeada de silêncios. Caso estivesse na minha turma, Luisa também teria uma dificuldade imensa de explicar a sua configuração familiar. Ela tem dois pais e uma mãe. Os três são absolutamente loucos por ela.

Luisa é a prova de que os 22 anos que nos separam trouxeram evoluções.
Ela já se orgulha do seu cabelo ondulado, apresenta aos amigos naturalmente seus dois pais e já vai se dando conta da sorte que tem em viver numa família com tanto carinho.

Eliza é filha de jornalistas e, também pudera, já se comunica como tal. Se ela tivesse frequentado a faculdade de jornalismo na mesma época em que eu e seus pais, poderia ter sido a repórter que foi assediada por um garoto insolente e demitida duas semanas depois que levou isso a público. Ou então, se optasse por qualquer outra profissão, poderia estar na luta por salários igualitários e por oportunidades que independam do gênero, como estamos atualmente.

Hoje, Eliza só quer saber de fazer o Patati dormir e ver animais no zoológico. Mas tenho certeza que ela já percebe que o seu pai é quem cuida dela por um período do dia. Também deve ter ouvido que uma das reclamações mais constantes da sua família é a falta de trocadores de fraldas em banheiros públicos masculinos. Eliza é uma criança que não entende de gênero, mas saca muito sobre amor e cuidado.

Já Ana Maria nasceu há um mês dias. É filha de um pai negro e de uma mãe branca. É calma e linda. Se tivesse nascido na nossa época, sua mãe provavelmente a amamentaria apenas em locais escondidos para evitar olhares de repúdio. Mas, graças a mamaços e campanhas lindíssimas que massificaram nos últimos anos, na semana em que ela veio ao mundo, a capital de Minas Gerais aprovou uma lei que vai multar locais que proibiram crianças como ela de serem amamentadas onde as mães se sentirem confortáveis.

Neste momento ela deve estar dormindo ou sendo alimentada no banco da praça, no sol. Ana Maria vai crescer sabendo que direitos são conquistados com muita luta. Mas que são motivados sempre pelo amor.

Luisa, Eliza e Ana Maria são minhas afilhadas. São crianças, como você vê brincando na rua. São meninas que se tornarão adultas num mundo que está mudando rápido e para melhor. E isso acontece porque tem gente lutando por isso. Já pensou se todo mundo lutasse junto?

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