Você se ama o suficiente para amar alguém?

Sempre soube que o amor não se tratava apenas de atração física, isso é conhecido por outro nome: tesão. Amor é mais pra cima, bem depois das borboletas do estômago e do coração que apanha, acontece na nossa cabeça, mesmo a gente achando que não. Tem mais a ver com respeito e cumplicidade, do que com qualquer outra capacidade que os gurus do poliamor e do óleo de coco pregam por aí como infalíveis.

Dia desses, em uma sessão de terapia, minha Psicanalista me fez refletir sobre a questão, logo eu, um cara intenso que adora viver relacionamentos ao maior estilo novela mexicana. Assim que me acomodei no sofá, e comecei a revirar todos os incômodos da minha cabeça, ela arrumou os óculos e fez a seguinte pergunta:

– Zé, o que você espera de um relacionamento?

Na hora, minha mente deu tela azul, mas consegui responder de maneira clichê, com esses adjetivos que procuramos para justificar nosso próprio conto de fadas.

– Ah, sei lá.. quero ter alguém que se sinta bem ao meu lado, que tope conversar com a minha mãe sobre novelas, mesmo que não entenda, que me apresente novas músicas, lugares e gostos, que eu possa admirar pelas qualidades, não julgar pelos defeitos, e, principalmente, que seja recíproco.

Até aí tudo bem, todo mundo é meio assim quando vislumbra o amor de um namoro, ou sou só eu a exclusivona encantada? Não, né? Espero que não.
Emília sorriu, fez sinal de positivo como rosto. Em seguida, soltou uma bomba nuclear no meu colo:

– Ok, Zé. Agora, quero saber quem é você em uma relação amorosa? O que você entrega para a outra pessoa?

– Eu? Como assim eu?

Ela cutucou uma ferida que nem eu sabia que tinha. Então, respirei fundo, enquanto a boca estava vazia e os olhos começaram a encher e comecei:

– Eu sou cara legal, sabe? Carinhoso, adoro dormir abraçado, contar piadas ruins, fazer surpresas e escrever bilhetinhos pra deixar escondidos. Topo uns rolês de mochila por aí e também ajudo a lavar a louça, compartilho minhas músicas e os meus medos. Cuido, mando mensagem de bom dia e boa noite, pergunto como foi a rotina e adoro escutar todos os desabafos possíveis, de filas intermináveis a picuinhas do trabalho.

Assim que terminei, ela justificou:

– Percebe quanta coisa boa você tem?

Balancei a cabeça positivamente e me senti aliviado, de certa forma.

Por quê?

Porque só assim consegui perceber quem eu era, e como deve ser legal namorar alguém parecido comigo. Obvio, não sou perfeito, tenho minhas falhas, iguais e diferentes as de todo mundo e tá tudo bem, o mais importante dessa conversa, foi compreender que, apesar de todos os términos, eu ainda fiquei comigo, com o carinha descrito parágrafo anterior e ele também pode ser assim com outra pessoa, desde que ela queira, caso contrário, ele sabe se querer sozinho.
Pra terminar, se tu chegou até aqui, proponho faça o exercício de perguntar a si mesmo:

– Quem eu sou em um relacionamento?

Às vezes, não conseguimos enxergar o quão incrível somos. De tanto olhar pra fora, esquecemos de ver o que acontece por dentro, e não se trata de sermos perfeitos, mas de sermos únicos e fundamentais para a nossa própria felicidade.

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