A criança que eu era e a adulta que me tornei

Perguntaram-me se a criança que eu era se orgulharia da adulta que me tornei e isso ficou martelando em minha cabeça. Talvez porque a criança que eu era sempre fora ingênua o suficiente pra acreditar que nunca deixaria de dormir na cama da mãe e nunca se esqueceria de certos sonhos. Ingênua o suficiente pra acreditar na eternidade da infância.

Mas eis que aqui estou eu, sendo colocada cara a cara com a Beatriz de 7 anos de idade e recebendo uns tapas pra acordar. Pelo visto, crescer fez com que eu fosse deixando de lado tudo que considerava difícil demais, fantasioso demais e passando a abraçar somente o possível, o pertinente.

Internalizei que ser adulto é ver o mundo em preto e branco. É não se impressionar com qualquer coisa. É o oposto de ser criança e acabei guardando a criança que eu era nos álbuns de fotografias e nas ruas sem saída onde eu andava de bicicleta.

A Beatriz de 7 anos sentiria tédio do trabalho que eu tenho e do curso que escolhi. Ela odiaria esse curso. Mas, Bia, nem tudo que fazemos é cor-de-rosa. E esse trabalho pode ser chato pra uma criança inquieta, mas eu tenho gostado dele. Esse curso nunca foi nosso sonho, mas prometo-lhe não esquecer de tudo que você planejou pra mim, pra nós.

Você sentiria medo da noite. Das festas. Se assustaria com o tanto de pessoas que romantizam o uso do cigarro e pediria “por favor, Bia, me leva pra casa que agora eu só tenho 7 anos e tá fazendo muito frio”.

Eu, adulta, tomo uma bebida que o frio passa, mas você, com 7 anos de idade, diz que nunca vai beber e que cerveja tem gosto de xixi.
E agora parecemos duas pessoas diferentes. Por isso te peço perdão. Peço perdão à Beatriz que via um mundo colorido e ia pra lá e pra cá com sua cachorrinha de estimação no colo. E digo-lhe que é normal que eu não tenha me tornado uma princesa aventureira montada num cavalo como você imaginava.

Coloco pra tocar aquela música do Chico Buarque e do Edu Lobo que fala “me leva para sempre, Beatriz, me ensina a não andar com os pés no chão”. Porque talvez, os maiores erros de se tornar um adulto estão em pensar demais, em encontrar resposta prática pra toda e qualquer pergunta e, principalmente, em se esquecer e se perder da criança que fomos e nunca deixaremos de ser.

Por fim, te digo algo que aprendi ouvindo essa música: “Para sempre é sempre por um triz”, Beatriz.

Comentar sobre A criança que eu era e a adulta que me tornei