A gente morre de inveja

A gente morre de inveja.
Quando alguém consegue o que a gente queria, quando alguém que a gente admira não nos dá a mesma moral que dá para outros, quando o sucesso chega mais rápido para o nosso rival.

A gente morre de inveja.
Se morde de ciúmes mesmo. Bloqueia o celular e faz de conta que não viu, estufa o peito cheio de moral e pensa que não vai dar bola, faz cara de pouco caso e sacode os ombros com desdém.

A gente morre de inveja.
Quando ficamos escanteados, pois afinal somos bons demais para sofrer de falta de reconhecimento. Aí a gente encontra alguma resposta, inventa alguma desculpa. Esbravejamos em tom de arrogância:
“Ah, eles não me querem por que sabem que sou melhor.”
“Eles têm é medo que eu seja maior que eles.”
“Eles não sabem quem eu sou!”

E assim a gente arruma um conforto momentâneo. Uma chupeta para acalmar o bebê birrento do nosso ego.

“Nana, neném.
Mamãe está aqui.
Eles são vilões, você é o mocinho injustiçado.”

Há uma mãe na nossa cabeça que nos dá colo e vende uma ilusão diferente para cada vez que a gente morre de inveja.

Mas é que a gente morre mesmo. E morre também de vergonha. Não temos culhões para admitir que temos esse veneno correndo nas veias. Só que sentimentos não são lá algo muito controlável. A inveja é aquilo que todo mundo sente e nunca vai ter coragem de assumir. Talvez nem saiba identificar, ela é muito mais comum que se pensa.

Temos inveja de tudo aquilo que queríamos e por algum motivo não conseguimos ter, ser ou viver. Quem conseguiu nos irrita cada vez que vem a tona. O sorriso é amarelo e o ódio disfarçado.

A gente morre de inveja, não adianta negar. Está impregnado na vida, nas pessoas, nos sonhos perdidos.

Que a gente sente, sente. Agora dá pra usar isso como motivação para sermos melhores, mais fortes, chegarmos perto da posição daqueles que invejamos.

Inveja branca? Ah, não me vem com essa. Toda inveja é obscura, ruim, sombria. Porém há sempre como transformar as coisas ruins em boas.

O lance é não negar e nem se culpar por sentir. Que nem aquelas religiões inventaram que algumas coisas não podem sem sentidas: são frutos de pecado, tentação, indignidade.

Ah, para!

Sentir a gente tem que sentir tudo. Pois o que a gente esconde debaixo do tapete, uma hora implode.

Então, sinta. Morra de inveja mesmo.
Queira o que não é seu ainda.

Pegue a sua inveja e use de combustível para lhe levar ao que os outros tem e você acha que deveria ser seu também.

E assim, sem precisar tomar nada de ninguém, você vai deixar de ser invejoso e se tornar invejável.

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