Dos olhares diários

Um olhar profundo – ainda que breve – tem o poder quase que sobrenatural de interromper a ação do tempo, num daqueles momentos líricos, onde uma ponte se ergue entre os olhos recém-descobertos, conectando-os e congelando tudo ao redor.

A maioria das pessoas sorri com a boca, mas os verdadeiramente afortunados sorriem também com os olhos – e consequentemente com a alma. Estes, especiais que são, costumam ser responsáveis por instantes inesquecíveis na vida daqueles que cruzam os teus caminhos.

Olhares independem de lugares, nos encantamos em filas de banco, sinais fechados, pontos de ônibus e supermercados. Mesas de bar, então, são terrenos propícios para encontros oculares, sejam eles dispersos, diretos ou subliminares.

Pelas esquinas das cidades carentes de atenção, somos salvos – de tempos em tempos – por pontuais demonstrações de ternura, vindas de retinas desconhecidas, tão doces meninas dos olhos. E entre olhares dispostos a conjugarem temores expostos, partimos diariamente em busca de afagos simultâneos e abrigos silenciosos, que nos livrem – mesmo que momentaneamente – das angústias do caos cotidiano.

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