Meu amor é uma câmera fotográfica

Eu tava pensando outro dia que o que a gente leva das pessoas que fazem parte da nossa vida, mesmo que brevemente, são flashes. Memórias que a gente guarda, querendo ou não, em formato de quadros. Talvez, devido à loucura que é a interweb (como eu gosto de chamar), dá até pra dizer que são gifs. Recortes curtos de um grande filme.

Se você parar pra pensar e se esforçar bastante, consegue estender a cena, mas normalmente ao pensar em uma pessoa o que vem à mente é o gif. O recorte. O flash. E pensando sobre isso, percebi que as pessoas que mais quero manter por perto são as que a) tenho mais flashes e b) são flashes que gosto de rever, que me fazem bem. Como o flash que sempre vem à mente quando penso em você: eu na rodoviária de Florianópolis, sozinho, encasacado (fazia um inverno forte aquele ano), esperando por você. Esperando a qualquer momento ver você entrando pelo portão de desembarque. E, ao mesmo tempo, duvidando de tudo aquilo, afinal, ninguém nunca tinha pegado um ônibus há 150 quilômetros de distância pra vir me ver. Quem diabos faria isso?!

Mas você fez. E eu lembro, como se tivesse acontecido há cinco segundos e ao mesmo tempo como se fosse uma memória de outra vida. Antes do advento dos smartphones e whatsapps e muito antes da morte do suspense (quem aqui é surpreendido por alguma pessoa quando todo mundo se avisa o tempo todo sobre tudo através de 23 redes sociais diferentes?). Lembro de sair andando, pensando que você não tinha vindo, pensando que eu estava no portão errado e, de repente, ver você vindo na minha direção. E lembro que paramos, nos olhamos de longe e sorrimos. Eu lembro do resto, de como nos abraçamos, mas o flash é eu parado na rodoviária, como em uma cena de filme, olhando pra você e você olhando pra mim e eu pensando: ela realmente veio.

Lembro de outro flash, também. Antes desse acontecimento na rodoviária. Lembro de quando fui na sua casa pela primeira vez pra tomar um café colombiano que você me ofereceu. Era madrugada, já passava das duas da manhã e eu precisava trabalhar a partir das seis, sendo que tinha uma viagem de duas horas pela frente. Você estava sentada no chão da sala do seu primeiro apê, aquele que você foi morar sozinha. Estava encostada na porta da sacada aberta enquanto eu, em pé, falava sobre qualquer coisa. Eu lembro do seu olhar em minha direção. Ninguém tinha me olhado assim antes.

E outro flash, em outra vez que fui na sua casa, antes de darmos nosso primeiro beijo. Você me acompanhou até a saída do seu prédio. Era noite, estava frio. Eu te abracei para dar tchau e coloquei seu cabelo atrás da sua orelha, como eu falei dias antes que gostaria de fazer um dia com quem eu gostasse muito. E você ficou me olhando. Meses depois você me contou que queria me matar aquela noite, afinal eu fiz aquele gesto tão significativo, te dei um beijo na testa e fui embora. Mas a cena ganha de qualquer filme romântico que já assistimos.

Eu tenho tantos flashes com você e isso só me faz pensar o quanto quero continuar ao seu lado. A vida é vivida no presente, mas não tem coisa mais bonita do que olhar pro passado e ver tudo que passamos juntos e de como isso nos marcou. Assim como uma tatuagem, que fazemos na pele e nos lembra eternamente sobre algo importante, você está gravada nas minhas memórias, na minha vida.

É como se meu amor por você fosse uma câmera fotográfica. E eu acho isso tão bonito.

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