O que o amor faz com você

Adoramos pensar que o amor é a solução para todos os males, de um lado ele pode exacerbar as loucuras de uma pessoa ou de outro acalmar os demônios pessoais.

Acompanhe comigo duas situações.

Na primeira a Érica (nome fictício) vivia de modo caótico, financeiramente desorganizado, se metendo em brigas constantes com os pais, enfim, pura instabilidade. Depois de passados os primeiros momentos de desconfiança (doentia) na fase de reconhecimento do novo paquera ela se aninhava e tentava dar um jeito na sua vida. Começava a perceber que poupar um pouco podia ser interessante, que pensar antes de falar era mais sábio do que despejar seus dramas sobre os outros e que se enfiar em confusão não valia a pena.

Já Letícia quando solteira era aparentemente estável, talvez irritadiça e levemente mau humorada, nada digna de suspeita. Ao entrar num namoro, no entanto, seus fantasmas (escondidos no isolamento da solteirice) entravam em ação. Ela se revelava um poço de fúria desmedida e diante da mínima faísca todo o seu ciúme possessivo vinha a tona assustando seu parceiro. Quando o “transe” passava ela se culpava e tentava retratação, sem sucesso, sua moral já estava abalada. O ciclo de raiva desproporcional se repetia interminavelmente até o cara pedir arrego. Era o fim. Ela alegava: “ele é um fraco, não suporta mulher segura”.

A sensação de segurança, proximidade e convívio constante causa um efeito diverso de pessoa para pessoa. Algumas se mostram mais gentis, solicitas e bem humoradas quando recebem a atenção de alguém. São reativas ao temperamento do parceiro e fazem um contraponto melhor quando “cantam” em dupla do que solo. Elas se acobertam na personalidade do outro e se satisfazem em ser a voz secundaria da “dupla sertaneja”. Seus demônios pessoais talvez fiquem mais acuados e tímidos, as vezes projetados na personalidade mais ativa do parceiro. Este por sua parte não se importe de ser o carro chefe da relação e assume mais vezes a culpa pelo bom ou mau andamento da relação. Estar protegida do isolamento faz sua metralhadora interna ter um alvo externo concreto impedindo que atire no próprio pé.

Outras pessoas funcionam do avesso, pois as inquietações que estavam camufladas na vida louca de solteiro ou na timidez impede que percebam que são mais limitadas do que gostariam de pensar. No contato mais próximo com alguém seus botões são disparados com mais facilidade, sua carência é aflorada, afinal agora tem no parceiro algo para se importar. Enquanto viviam como uma cigana emocional sem nenhuma pátria era mais fácil alegar desprendimento e até ausência de paixões, temores ou conflitos existenciais.
Colocadas no palco do relacionamento suas forças sombrias atuam de modo mais contundente, e pior, contam com uma testemunha direta da qual não podem se furtar do confronto consigo mesmas.

Por esse motivo que eu digo, relacionamento amoroso, ainda que desejável, não é para qualquer um, pelo menos não uma história saudável. Ele exige preparo, resistência, força de espírito e sacrifícios que nem todos, mesmo com toda boa vontade do mundo, conseguem manifestar. Certos obstáculos que para alguns exigem manobras básicas para outros são tarefas impossíveis.

Não é o amor em si que causa problemas para a vida de uma pessoa, mas é a pessoa que causa problemas para o amor.

Por fim, deixo meu convite para entender mais sobre relacionamentos amorosos nessa palestra do dia 25 de maio (sábado): http://www.eventick.com.br/amoroso

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