Questão de Tempo, um filme sobre voltar atrás com o coração no comando

Rachel McAdams me parece o perfeito arquétipo da princesa encantada: é uma atriz que a gente olha, olha de novo, sente um ar de benevolência, uma elegância, uma leveza. Não que eu ache que essas princesas existam, mas Rachel agrega o dom de nos despertar um afeto gratuito, a acho competente, não excepcional, mas adoro qualquer filme em que ela esteja. Há uma diferença entre achar uma atriz incrível e gostar muito dela, por algum “motivo sem motivo”, e o segundo tipo de afeto também vale, por que não?

Em “Questão de tempo” sua personagem é secundária, e se cruza com a história de Tim (Domhnall Gleeson), um rapaz de baixa autoestima, que por muitas vezes se sabotou, e desperdiçou diversas oportunidades de vida sem reagir às dificuldades. Tudo muda em uma festa de Réveillon, em que seu pai (Bill Nighy) revela a ele um segredo familiar e hereditário um tanto inusitado. Um segredo que pode mudar o rumo da sua vida e também corrigir algumas rasuras do passado.

Tim descobre que possui a capacidade de fazer viagens no tempo, ele só precisa estar em algum lugar escuro e mentalizar em qual contexto temporal gostaria de voltar. Nós já vimos isso em outros filmes, mas nesse há uma diferença discreta em termos de mensagem, não há o novelo megalomaníaco de histórias em que o personagem abastado resolve se dar bem em questões fúteis, em que só ele se beneficia das vantagens de seu dom. Nesse filme, esse tipo parece pensar de uma maneira mais familiar, fraternal e romântica.

O filme tem diversos momentos emocionantes e tudo fica ainda mais comovente com a marcante trilha sonora. Desconfio que toda soundtrack que possui a canção instrumental “Spiegel im Spiegel” é fatalmente boa no resto das escolhas. Ah, e olhar o litoral inglês dentro de uma fotografia tão criteriosa é como receber um presente contemplativo de encher as pupilas.

Agora vamos falar de choro? Isso é óbvio, mas eu chorei diversas vezes nesse filme, principalmente quando ele sem querer tocava na questão das “declarações engasgadas”. Acho que a gente passa a vida toda engolindo frases, palavras e sentimentos por puro orgulho ou medo de parecermos cafonas, e muitas vezes fazemos isso com plena noção de que iremos nos arrepender. Talvez uma das piores dores que alimentamos durante a vida é a economia do diálogo que mudaria tudo, uma dor latente, aquela pessoa que você passa a vida toda sem nunca mais procurar por mágoa, ou porque o orgulho tomou conta de tudo, e você sente falta, e já estava arrependido mesmo antes do dia de se arrepender de fato. Nesse filme, os passeios temporais sugerem diversos diálogos entalados entre pai e filho, e nessa perspectiva, um padrão que eu só agora me dei conta: de 8 a cada 10 pessoas que eu conheço, o grande diálogo que faltou na vida foi com o pai. Será coincidência?

Por tudo isso, eu gostaria de dizer que eu gosto de você, você que está aí lendo esse texto do outro lado, e que chorou com esse filme e que pensou em alguém que deixou de procurar por orgulho. Eu sei, medo de doer, todos temos, mas não estou com medo nenhum de dizer isso agora, que eu gosto de você, seja lá quem você for, até o seu próximo filme – ou medo.

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22 comentários abaixo sobre Questão de Tempo, um filme sobre voltar atrás com o coração no comando

  • Natallia Moser disse:

    Esse filme é simplesmente maravilhoso!! ♥

  • Mati Soares disse:

    Eu assisti esse filme umas 10x pelo menos, e não me canso de assistir. E sobre a Rachel McAdams, foi perfeita a tua descrição sobre ela.

  • Tamires Rodrigues disse:

    Eu já vi esse filme várias vezes e também não me canso de assistir, chorei vendo, claro e só para constar Spiegel im Spiegel é linda, para não dizer maravilhosa ♥

  • Silmara Ferreira disse:

    Esse é um daqueles filmes que não me canso de assistir. Me fez e faz chorar sempre….

  • Julliana Lisboa disse:

    Esse filme é lindo! Não por ser uma história de amor perfeita, mas por falar de amor, de uma forma pura e simples. O amor entre um homem e uma mulher, um pai e um filho, um irmão e uma irmã. Chorei tanto, até solúveis na cena que ela, em que o pai dele morre e de novo quando os dois não vão mais poder se ver, foi tão lindo quando os dois voltam no tempo e vivem um momento tão simples e único(amor). E que casal mais apaixonado que todos os dias se despedem de forma tão simples e emocionante. Não tem como não se envolver, sentir cada forma de amor.

  • Mikaele Tavares disse:

    Ainda não vi esse filme, mas só de ter Rachel McAdams e com a sua resenha, fiquei com mais vontade ainda. Amei o texto, e compartilhei (com os créditos) uma parte que amei.

  • Ághata Leonardi disse:

    Anotado para a listinha de filmes do feriado! Já perdi as contas de filmes que assisti devido às indicações do Edu ♥

  • Bárbara disse:

    Chorei de soluçar com esse filme… Faço parte dos 8 para 10 e não posso mais voltar atrás… Esse filme é lindo, uma lição. A trilha um capítulo a parte com Il mondo rsrs lindo lindo

  • Morgana Patrocinio disse:

    Meu filme favorito *-*

  • Jessica Carvalho disse:

    OMG o melhor filme da face da Terra, muito bom msm, e sim derramei milhares de lagrimas….Esse lance de tratar uma historia batida (como ter um super dom) com uma visão inovadora (como a de Tim, pra ajudar os outros) é algo encantador….Questão de tempo com certeza tá no topo da minha lista de melhores filmes q já assistir na vida kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  • Jeyse Pereira disse:

    Cara, eu gosto de vc tb! Hahaha
    Vou assistir -lo agora. ^_^

  • Dafnne Lima disse:

    Perfeito! Leve como o filme, o que nos faz pensar em viver a vida do nosso melhor jeito!

  • zoraya therezinha da silva disse:

    Não tinha assistido ainda, então essa noite vou brincar de “meu mestre mandou” e corrigir isso… “Spiegel im Spiegel” já tinhas mostrado, né? Procurei o significado na época, e é lindo: repetidos reflexos de espelho dentro de outro espelho e outro espelho… Gosto de pessoas que usam a palavra – talvez – . Ela suaviza a condenação, mesmo que seguida por uma verdade incontestável. Ajuda a baixar a guarda. Depois dela, eu acho, ouvimos melhor. E esse teu – talvez – … !!!

    Talvez, uma das piores dores que alimentamos durante a vida seja a economia do diálogo que mudaria tudo, uma dor latente, aquela pessoa que você passa a vida toda sem nunca mais procurar por mágoa, ou porque o orgulho tomou conta de tudo, e você sente falta, e já estava arrependido mesmo antes do dia de se arrepender de fato.

    • zoraya therezinha da silva disse:

      Lindo, lindo… de doer… E agora, sempre que eu ver um carinha mais divertido, mais animado, vou imaginar que ele está vivendo aquele dia pela 2a vez, como sugeriu o pai ao Tim. Gostei das vezes que ele decidiu não mudar a história. Pensei na diferença entre valor e preço, o que tinha valor ele manteve. Amei aquele beijo generoso que ele voltou pra dar na garota do reveillon… E ele tinha um poster da Amelie no quarto!!!

  • Marcela Cruz disse:

    Ah meu tbm gosto de ti.. ainda mais com essa dica de filme.. vou assistir.. valeu!!!

  • Nadyne Ribeiro disse:

    Esse filme é um dos melhores que já vi!

  • Thais Allana disse:

    Esse filme me surpreendeu. Foi uma descoberta encantadora.

  • Ana Beatriz Abboud Aranega disse:

    Esse é um dos meus filmes preferidos!! Não pelo romance em si, mas porque está implícito que devemos aproveitar o máximo possível de cada momento de nossas vidas e sempre tentar encarar qualquer experiência pelo lado positivo. E eu também amo a Rachel McAdams! Ô mulher que fica bonita com qualquer cabelo!! haha

  • Bruna Pereira disse:

    Obrigada pela indicação. Não tinha ouvido falar desse filme ainda e amei!

    “,,,de 8 a cada 10 pessoas que eu conheço, o grande diálogo que faltou na vida foi com o pai. Será coincidência?”

    Saudades eternas do meu :,(

  • Jac Cavalcante disse:

    Adorei a matéria :)
    Faz um tempo já que assisti e me lembro q gostei muito…principalmente dos pequenos detalhes do relacionamento dos protagonistas. Mas aí fica no ar: independente de engulirmos palavras e orgulho e ego e sentimentos e choro e etc ccc mesmo sabendo que iremos nos arrepender, eu ainda continuo acreditando no destino cru. Aquele mesmo que prega peças. Sim! Pq sabe, ele faz a gente passar por essas situações que a gente queria voltar atrás e remediar ou fazer diferente. Mas essas situações são muito necessárias pra vida de cada um. Lá na frente a gente percebe ou talvez nunca perceba. Tb nem importa tanto se a gente se dá conta ou não. Mas nada passa batido e tudo isso vai moldando quem nós somos e compondo a nossa bagagem.

  • Luiza Amorim disse:

    Fui ver o filme só por causa do seu texto, não me arrependi, esse filme é lindo!! Obrigada pela dica Edu :)

  • Luan Lima disse:

    Se tornou um dos meus filmes preferidos, a mensagem é desprovida realmente de egoísto, acho que no inicio ele fica um pouco perdido com essa novidade e tenta resolver o que ele acha ser o principal problema na vida dele que seria arrumar uma namorada rs, porém a experiência e orientação do pai foi essencial na minha opinião, porque o Tim realmente pensou em coisas fúteis de inicio, mas descobriu o que realmente importa na vida. (Aberto a Críticas)