Sobre como te amei e deixei de te amar

Te vi nas entrelinhas dos meus sonhos disfarçada de euforia e a urgência em querer saber se ficaríamos juntos ou fomos algo que simplesmente aconteceu e… Acabou.

Você me perguntou:

– E aí?

E eu respondi:

– Como você tá?

Era nítida tua inquietação, aquela aura sobressaindo o teu riso camuflado de curiosidade e essa necessidade apelidada de saudade.

– E aquela garota? Vocês tão juntos?
– Por que você quer saber agora?
– Isso é um sim?
– A gente sai, estamos nos conhecendo.
– Sei…
– E você e o carinha lá?
– Que que tem?

(Ela suspirou e olhou pro lado)

– Vocês formam um belo casal, e ele parece ser um cara de boa índole.

– Tu acha?
– Não importa o que eu acho, mas sim o que ele te representa.
– E o que seria?
– Que é inegável teu sorriso quando tu toca no nome dele.
– É, pode ser…
– Massa isso. Sério!
– Mas tu não me respondeu.
– O quê?
– …
– Ah, eu e a garota lá? Bom, como falei, a gente tá saindo e tem sido tranquilo, e de boa.
– É que… Deixa pra lá!
– Hum, diz aí!
– Melhor não.
– Tá tudo bem?
– Está.
– Então tá.

Meu celular toca, levanto, dialogo por alguns minutos, firmo planos no telefonema sobre aquele acampamento, quais bebidas e comida levaríamos e se seria boa ideia levar um violão ou o ukulele, ou os dois. Desligo, checo o WhatsApp, a hora, o coração, o pensamento e o sentimento. E ela me observa voltando pra mesa do bar.

– Então, vou pedir a conta.

– Tá, tudo bem.

(Tomamos nosso último chopp, nos olhamos e continuamos a prosa)

– Saudade é algo engraçado né.

– É.
– Ao mesmo tempo que pode resignificar alguma coisa, ela pode traduzir algo ou desmistificar outra coisa.
– Verdade…
– E tu tá estranha. Pra caralho.
– Nada não. Bobagem.
– Certo. Só uma coisa!
– É que…
– Fala!
– É foda, sabe.
– Hum.
– Ás vezes me pergunto o que é nós dois, se é pra ser ou não. Já imaginei e adiei, não quis e quis. Retruquei, mas vira mexe meu pensamento volta em ti. 
– Mas…
– Eu te amo e isso é foda, porque ao mesmo tempo que te quero, penso que não é certo. Complica a bagunça tudo, aqui.

(eu comento)

– Muito louco né.

– É.
– Calma, é que já imaginei, arquitetei e planejei mentalmente como seria os nomes dos nossos filhos, como seria nossa vida a dois e se seria uma boa sair mochilando ou montando planos para cada fim de semana da vida. Se cairia bem eu te presentear com um pote de Nutella em dias que você está de TPM, se preparar um Yakisoba do nada no meio da semana pra gente jantar, uma degustação de vinho ou uma playlist com Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin e Rush cairia bem depois da gente bêbado e transar no chão do apartamento com incensos e a vibe de quem apenas se ama. Mas percebi uma coisa.

– Nossa, o quê?

– De que nada adianta imaginar, sonhar ou declarar, se a gente simplesmente não quer mais ou encontrou em outro abraço o que por muito tempo esteve em ti e você apenas não quis por medo, talvez. E preferiu se deliciar nas dúvidas do coração, se encontrar em outros corpos e enchendo mais e mais copos. Enfim, não que eu não te ame mais, mas percebi que em ti, outros significados e os dei vida.

– Significados?

– Sim. Nada, nem nunca, nem ninguém, nem nós dois vamos entender essa nossa história. Porque somos assim, melhores sendo cúmplices do que um dia foi acaso, sincero e pronto. Te amo, sussurro pra ti coisas que mulher ama, não fico em meia palavras e falsas promessas que amanhã posso esquecer e assim me auto sabotar pensando que isso é felicidade, mas é egoísmo. É entender que podia te dar o mundo, simples eu sei, mas repleto de pequenos significados dessa cadeia de amar. E eu te amei.

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