A segunda-feira pode dizer muito sobre as suas escolhas

Na minha família o comentário “a música do Fantástico me dá um desespero” era ouvida com frequência. Não é pra menos. Um jovem casal com dois filhos nada fáceis pra criar, empregos estressantes e muita coisa pra fazer fora do horário comercial só podia mesmo sentir um frio na espinha em pensar na volta para a nada mole vida real.

Vinte e poucos anos depois, o meu sentimento em relação ao mais temido dos dias é – como quase tudo que cerca – uma montanha-russa. Há fins de semana que não acabam mais porque os cinco dias úteis prometem ser incríveis. Mas tem também o que chamamos de “bad de domingo”, quando o pôr do sol na janela de casa inicia uma espécie de transe, em que se tenta retardar o passar do tempo e acaba acelerando ainda mais a chegada do dia seguinte.

O mais mau-humorado dos dias sempre me faz pensar em como esses sentimentos que pairam sobre nós são resultado das escolhas que fazemos. Das pequenas às mais bestas.

Sim, todo mundo tem que trabalhar e as condições não são as mesmas pra todas as pessoas. Nem todo mundo pode escolher o que quer ser quando crescer. E aí já está um motivo forte pra que a segunda-feira de quem pode se dar ao luxo de fazer o que gosta não seja lá o pior dos dias.

Também tem os que acham que a semana é sinônimo de solidão profunda, já que fim de semana é que serve para ver os amigos. Por que? Acordar duas horas mais cedo ou dormir um pouco mais tarde pra poder ver alguém que trabalha ou estuda próximo de você é perfeitamente possível. É escolher a companhia ao sono. Se você não está a fim, não pode mais reclamar que não dá. É uma escolha que você fez.

Não tem amigos perto? Faça novos. Conheço pessoas que argumentam que o fim de semana serve pra conhecer pessoas novas, quando de segunda a sexta-feira não respondem nem o bom dia de quem está no elevador. Vejo todos os dias gente com que eu adoraria trocar experiências – trabalha numa empresa legal, se veste de um jeito bacana, é amigo de um amigo – mas que não largam o celular pra me dizer olá. Muitas vezes, que me deixam num puro vácuo.

Na segunda a gente se estressa porque se dá conta que escolheu a roupa errada por causa do sono e não se dá conta de que podia ter feito isso na noite anterior. Na segunda a gente fica de mau-humor porque começou a dieta, quando poderia estar animado com a possibilidade de mais qualidade de vida.

Se a rotina anda pesada, traga leveza. Quando fica difícil respirar, eu sento no banco da rua e vejo os outros andando por aí. Todas carregando suas histórias, seus medos, seus amores, suas dúvidas. Me dou conta de que sou só mais uma pessoa. E que reclamar vai fazer de mim um pontinho na multidão.

“Mas a vida anda louca, as pessoas andam tristes, meus amigos são amigos de ninguém”, cantava lindamente o Vander Lee. Todo mundo tem dias ruins. Tem segundas-feiras que realmente são impossíveis. Mas hoje em dia, pelo menos a gente não tem como única opção ouvir a música do Fantástico. E também pode escolher mudar o estigma deste dia, que apesar de ser só mais um, não é considerado um qualquer.

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