“E aí, rolou?”

Duas amigas se encontram e começam a conversar sobre a vida, os projetos e os casos que estão tendo – ou não. Em certo ponto, elas chegam aqui:

Saí com o André ontem.

E aí, rolou?

Sim.

E se ele espalhar por aí que “te comeu”?

Isso é problema dele.

Claro que não, é problema teu também.

Meu? Porque ele vai achar que está me difamando, me chamando de piranha ou se gabando pros outros?

É. Claro.

Isso é problema dele. Sou adepta do “o que você pensa de mim é problema teu”.

Mas, amiga, as pessoas vão te julgar se souberem. Você sabe que essa turma é foda. Todo mundo paga de liberto e mente aberta, mas falam horrores depois.

Se eu tivesse preocupada com o julgamento das pessoas não teria dado na primeira noite. Existem coisas mil vezes mais importantes. E tenho certeza de que, quem quer falar mal, fala mesmo quando tudo parece acontecer “do jeito certinho”.

É… você bem sabe como a sociedade ainda tem esse ranço machista. Tem até razão quando fala da liberdade da mulher, mas é só ela dormir com o cara num primeiro encontro que tá armada a patrulha.

Eu não sei como alguém consegue viver pensando ainda assim, sabe?!

Nós temos um monte de amigos em comum.

Talvez eu precise de novos amigos, então.

Boba. Mas até aquele teu rolo antigo pode ficar sabendo. Tô só falando pro teu bem que acho que você não deveria ter feito isso…

Ai, para de falar isso.

Tá bom.

Cara, olha só. Primeiro, eu acho que posso confiar nele. Acho que ele não vai falar nesses termos. Se eu “dei”, se ele “comeu”, isso é só uma mostra de como as pessoas podem ser idiotas.

É, verdade…

E, depois, se ele tiver a coragem de ser tão idiota assim, nunca mais vai encostar um dedo em mim. E você precisa parar de ter uma mente tão antiquada.

Ele já vai ter encostado tanta coisa em você…

Haha! Sim! Mas e daí? Porque eu tenho tesão eu sou puta? Só porque eu quis?

Pô, não briga comigo. Tô querendo te fazer pensar.

E eu estou pensando, amiga. Analisando. A gente vai pra cama por livre e espontânea vontade. Qualquer coisa diferente é estupro. Os dois queriam, lá estávamos nós. Foi gostoso, os dois gozaram. E aí?

E nada. Acontece.

Pois é! É simples! Isso não dá a ele o direito de contar vantagem com ninguém. Eu posso ser a mulher mais gostosa do mundo, mas se ele resumir o que eu sou a uma noite, vai provar apenas que é só mais um babaca.

Ah, ele pode nem ser, mas os amigos fazem pressão pra saber, né?

Todo cara tem um amiguinho idiota, eu sei. Sinceramente, tenho quase certeza que ele não é desses. Acho, inclusive, que é uma grande idiotice quando você se contenta com uma noite. Uma foda. Uma noite, às vezes, não dá pra fazer quase nada do repertório.

Nossa, falou como a mulher experiente!

Ué, meu bem, homem gosta de ser enganado. Sabe quando você diz “eu nunca fiz isso”!?

Haha! Sei…

Então, ele tem duas alternativas: ou me procura querendo me conhecer mais ainda ou se contenta com aquela noite só.

E se ele não procurar?

Já vou ter matado a vontade.

Simples assim?

A vida precisa ser. A gente já complica demais julgando as pessoas que estão tentando vivê-la.

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