Nada mudou

– Adorei a nossa tarde, foi bem legal.

– É, também gostei. Eu senti falta de te ver.

– Eu também. Sorte sua que você só sentiu falta de me ver, porque eu morro de saudades do seu beijo.

– Eu também…

Pedro e Marcela se beijam, calma e longamente. Marcela pula para o banco do carona, onde Marcelo está sentado, e deita no seu colo, se aninhando de lado como uma criança com medo da chuva.

– A gente podia dar tão certo, Má…

– Pedro…

– Sério. A gente podia dar muito certo.

– Você sabe que não é simples assim. A gente é muito diferente.

– É, a gente é diferente, mas você adora estar comigo, falar comigo, você tem vontade de me beijar e me abraçar quando a gente se encontra.

– A gente já falou disso um milhão de vezes, Pedro. Nós somos só amigos.

– E você beija e abraça seus amigos assim? Você se aninha no colo deles assim? Pede colo? Pede cafuné? Deita no peito deles fazendo carinho no cabelo e na barba deles, que nem você tá fazendo agora?

– Não…

– Ufa.

Os dois se beijam. Marcela deitou a cabeça no ombro de Pedro e pediu cafuné.

– Isso é muito estranho…

– Tá bom, então, você tava certo. Você tá certo.

– Tô certo em que?

– Em achar que eu ainda gosto de você.

– Que você gosta de mim eu sei, mas… Você não tá falando sério?

– Tô.

– Você… ainda é… Eu…

Eu ainda sou apaixonada por você. Acho que nunca deixei de ser. Mas eu não tava mentindo, eu só descobri isso agora.

Pedro faz um longo silêncio.

– Mas isso não muda nada. Eu continuo achando que a gente não daria certo, continuo não querendo tentar.

– Eu nem sei o que dizer… Quer dizer, eu tenho um trilhão de coisas pra falar, mas sei lá. Eu já falei tanto, você não acredita.

– Não é que eu não acredite. Eu já expliquei.

– É sim, Má. É sim. Você não acredita que eu possa mudar, que a gente possa dar certo. Você botou isso na cabeça e não quer tirar mais.

– Não é, Pedro! Droga, não é! Eu acredito que você ACHE que a gente vá dá certo, mas não acredito que isso possa acontecer.

– Você está no meu colo, acabou de falar que ainda é apaixonada por mim, me beijou como se não nos víssemos há um ano, e continua irredutível…

– É…

– Então vamos fazer um trato: quando a gente se vir, se a gente quiser ficar, a gente fica. Se a gente quiser ficar de novo, a gente fica. Se a gente quiser ficar outra vez, a gente fica. E aí a gente vê no que dá.

– Tá bom, Pedro…

– Promete?

– Prometo.

Marcela deita de novo a cabeça no ombro de Pedro e pede cafuné, outra vez. Eles ficam abraçados. Ela fala que estava morrendo de saudades. Que sentiu a falta dele. Que adora estar com ele. Eles se despedem.

– Beijo, Má. Se cuida e olha o nosso trato.

– Tá bom, combinado.

Eles se beijam longamente e ficam vários minutos sem conseguir se soltar. Ela se solta, dá um beijo na bochecha dele e fala, já indo embora.

– Lembra que eu disse que demorei pra me apaixonar por você? Era mentira. Eu me apaixonei por você logo depois da primeira vez que a gente se viu. Eu adorava te ver, adorava as nossas conversas.

– Bom, brigado por ter me falado…

Ela corre até ele, o beija e se afasta.

– Nada mudou, Pedro. Não mudou nada.

Ela vai embora, enquanto ele fica parado, pensativo. Ela está certa: nada mudou.

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