Um texto sobre nada

Este texto, com sorte, será o primeiro do Brasil a não abordar tema algum. Não falarei sobre a beleza plus size das “gordelícias”, não confessarei o que eu acho das pessoas que têm uma leve cara de cavalo, não direi o que penso a respeito de gente que só come coisas que não sangram e, tampouco, escreverei sobre moçoilas tímidas que sentem um tesão descomunal por trabalhadores braçais com veias saltadas no antebraço, por seguranças de metrô que tiveram uma semana de fama graças ao Instagram e pelo ator de nariz torto que interpretou um médico em uma série televisiva.

Aqui, nesta coluna que não servirá nem para desopilar o seu fígado e que eu espero, pelo bem da humanidade, que seja lida por pouca gente – ou por ninguém além de você – , eu não falarei sobre nada, nadinha, neca de pitibiribas. Meu plano é apenas encher linguiça, como eu fazia nas provas de história do colégio – e também nas de geografia –, até conseguir um texto volumoso como pé de mulher velha depois de voo longo, encorpado como eu me sinto depois de passar férias em Minas Gerais e, principalmente, do tipo que costuma fazer o dono do blog, o Fred, dar um sorriso ou dois. Mas será que eu vou conseguir? Já me sinto tentado a descrever a minha vizinha que, neste exato momento, antes mesmo do Sexytime, fingindo displicência e sorrindo como se quisesse incentivar calinhos novos em minhas mãos, livrou-se da camisola sedosa e iniciou um desfile nudista pra deixar a ala masculina do bairro de pipi atento.

Mas como escrever, escrever, escrever e escrever, sem deixar de fazer sentido, impedindo que os leitores passem a me encarar como o novo lunático da praça e, ainda, o que eu considero a parte mais difícil, não pisar, nem que apenas na bordinha, em algum assunto? Aliás, será que eu, mesmo tentando falar sobre um bocado de nada, já quebrei a minha intenção inicial e, sem querer, acabei molhando a ponta dos pés em algum tema? Provável, admito. E será que prometer escrever um texto sobre coisa nenhuma já não é um tema, mesmo que apenas um tema com caráter esquisito e até duvidoso? É o que tudo indica. Aliás, prefiro não me aprofundar no assunto, pois uma resposta, com certeza, faz-me crer que estou me aproximando de algum assunto, mesmo que de algum tão inútil quanto o papel desempenhado pelo Murtosa no banco de reservas – ou pelo Fred dentro (?) de campo.

Este será um texto sobre nada, como eu já repeti diversas vezes antes – artifício que usei descaradamente para preencher espaço – , e com muita sorte e com um pouco da vista grossa de vocês, queridos leitores, ganhará o importante prêmio concedido, de treze em treze anos, apenas para os textos que prendem o leitor em um lamaçal de esperanças e que, aos poucos, como quem não quer nada, terminam em porra nenhuma. Ou melhor: em um ponto final que dá alivio àquelas ingênuas que passaram o texto todo achando que o autor, neste caso “eu”, em algum momento, mesmo que perto do fim, desistiria dessa ideia ignorante e falaria sobre qualquer porra, mesmo que apenas sobre a curiosa reprodução das baleias-jubarte ou sobre os machos das cascavéis que, para a alegria das fêmeas da espécie, possuem duas pirocas. Só que não! Vou me manter firme como uma freira frígida diante de um strip caliente protagonizada pelo Oliver, do Teste de Fidelidade, e não desistirei de concretizar o meu sonho de ser eleito como o autor do “Melhor texto sobre nada escrito sem influência de LSD e com um leve empurrãozinho de cápsulas pretas de Nespresso -What Else?”.

“E o que você quer com um texto mais vazio do que uma academia em domingo frio, caro cidadão certamente à beira de se tornar o sucessor do Rauzito no quesito falta de lucidez?”, alguns de vocês me perguntarão, com “razão”, coisa que parece me faltar, mas eu, segurando-me para não utilizar a falta de tema para dar um bom conselho a vocês ou para fazer com que riam da demasiada seriedade que têm empregado na hora de encarar a vida, apenas digo: não sei, não quero saber e tenho muita raiva de quem sabe; ou seja, tenho raiva de mim, pois só eu sei o que quero (além, obviamente, do prêmio já citado acima) com este texto que mais parece um dos tantos discursos políticos que logo, mais rápido do que imaginam, vão emporcalhar a sua tevê e anteceder a novela cujo protagonista galã possui nome de prato do China In Box.

Bom, meus caros, eu realmente gostaria de escrever mais um parágrafo que diz, diz, diz, mas nada diz, porém, infelizmente, o porteiro acabou de me interfonar para me informar que um tal de Dr. Simão Bacamarte está me pedindo para acompanha-lo até uma tal Casa Verde. Não sei onde fica, mas vou descobrir o que ele quer.

Obs: se eu não voltar em sete dias, peço que doem todas as minhas Playboys – menos a da Cida Marques, a da Vera Fisher e a da Cláudia Ohana – para alguma entidade séria e responsável por coletar sêmen. Fechado?

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