Brincar é preciso!

Um avião caiu em meio aos Alpes franceses. Cento e cinquenta pessoas morreram. Merda, merda, merda… O que dizer além de “merda”?

A morte, mais uma vez, resolveu pregar uma baita peça: deu as caras sem dar, ao menos, um aviso prévio, uma chance ao perdão que só saía em ensaios de chuveiro, uma oportunidade para uma ovada certeira na careca do chefe e um tempinho para uma última refeição fodidamente calórica, frita em azeite de dendê, açucarada sem moderação e com direito ao dobro – ou ao triplo, o que me parece mais justo – de tudo aquilo que os médicos comumente nos mandam evitar.

A morte, provavelmente decidida a me lembrar de que a nossa vida não passa de um frágil bibelô preso a uma casa cheia de gatos, neste instante, está presente em todos os jornais, sites e papos de elevador dos quais eu me sinto totalmente incapaz de fugir, como nos pesadelos em que meus pés parecem pesar pianos e os vilões insistem em correr mais do que o Usain Bolt.

Eu havia prometido ao Fred (o dono do blog e aquele que vive a fazer com vocês deem um sorriso ou dois) que, nesta semana, escreveria algo leve, sobre o amor ou outras drogas lícitas, porém, pergunto-me: faz sentido deixar de expressar, nesta plataforma de imenso alcance, aquilo que, agora, parece-me a única coisa importante a ser dita? Não, não faz.

Aliás, a grande questão é: já que a morte é como é, ou seja, um sorrateiro, inesperado e irrecusável ponto final, por que é que a maioria de nós, humanos, tem brincado tão pouco?

Vejo meus gatos escalando o sofá, fazendo farra com a tampinha do meu creme dental, enchendo a pança de ração e, inevitavelmente, penso: que porra sem graça eu estou fazendo com a minha vida?

Há um cronograma fixado na parede à minha frente, e nele, estranhamente, não existe “hora do recreio”. Aqui em casa não há, também, um sinal estridente para me dizer: ‘Largue o lápis, amasse uma latinha de Coca-Cola e saia por aí dando pontapés a todo vapor, como se nada – nem mesmo a iminente queda da Dilma e a constante alta do dólar – tivesse mais importância do que acertar o espaço mágico espaço entre dois chinelos.

Uma nova pergunta: quando foi que eu parei – ou que “paramos”, caso esse break também tenha acontecido com você, caro leitor – de brincar? Será culpa da escola em que estudei? Pois os meus professores viviam a chamar a vida de “coisa séria”, mas, raramente, diziam: “Hoje, caros alunos, vocês não têm lição de casa. Divirtam-se, apenas!”.

Não sei, não sei. Talvez, a minha demasiada seriedade seja apenas um reflexo do meu convívio diário – e inevitável, já que a maioria dos habitantes do mundo é assim – com seres cuja vida pode ser resumida em: “despertar-trabalhar-dormir”. Ou em: “trabalhar-poupar-trabalhar-poupar-trabalhar-poupar-trabalhar-poupar-trabalhar-poupar-trabalhar-morrer-fim”. Saca?

Insisto: brincar é preciso! Brincar é uma atividade essencial não apenas às crianças – como muitos pensam -, mas, também, a adultos como online slots você, que usam gravatas, batem ponto e que têm pilhas e mais pilhas de contas a pagar.

Não estou dizendo para você queimar a planilha que lhe pediram para fazer, tirar toda a roupa e, para o espanto de seus colegas acostumados à sua postura sempre sóbria, começar a dar cambalhotas sobre o tapete do escritório em que trabalha, em frente a um cliente rabugento. Se assim fizer, provavelmente, acabará no olho da rua. Ou em um sanatório, sei lá.

Nem sugiro que você comece a gargalhar de tudo, porque “rir de tudo é desespero”, como bem costuma cantar o Frejat.

Então, quais são os meus conselhos?

Insira caretas – as mais estranhas que souber fazer – entre nascer e o pôr do sol; aprenda a transformar as suas dores em piadas de bar, pois não há nada melhor a fazer com elas; não se sinta culpado – ou improdutivo – quando resolver passar o dia todo no sofá, vagando entre cochilos e porcarias na tevê; não deixe que o seu sucesso profissional lhe pareça algo mais importante do que o seu sucesso em manter, perto de você – e felizes! –, as pessoas que você ama; não tenha medo de vestir fantasias e de se entregar – sem vergonha dos olhares curiosos – a brincadeiras com crianças que ainda não tiveram a ingenuidade morta por algum telejornal; vez ou outra – e com bom senso, claro! -, quebre algumas regras, reinvente a sua rotina, permita-se o direito de acordar amassado sobre a sarjeta; se puder, evite dietas nas quais você nunca – nem uma vez ao ano – poderá comer Nutella, bolinhos de arroz e maionese temperada; não estou sugerindo que você seja um total alienado, contudo, de vez em quando, troque os debates políticos por um papo sem pé nem cabeça, do tipo que termina em crise de riso e câimbras no abdômen; não venda as suas férias, use-as para viajar, e, em seus roteiros, além de museus e a monumentos históricos, insira também parques de diversão e lugares nos quais a fantasia importa muito mais do que a realidade; arrume um hobby que nada tem a ver com a sua carreira profissional, alguma atividade que faça você se desligar do mundo e focar, somente, no seu prazer; não dê tanta importância às listas (nem mesmo àquelas que eu escrevo), a maioria delas não é pra você; por fim, antes de atender à solicitação da aeromoça e colocar o seu telefone no modo avião, diga “eu te amo” àqueles que você ama e “eu te perdoo” aos que você já perdoou e, por pura vaidade, ainda não comunicou.

Ah, e recomendo que compre camisetas que, ao invés de jacarés, contenham estampas engraçadas e capazes de mudar o ângulo do sorriso daqueles que cruzarão com você.

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