5 lições que podemos aprender com o pagode dos anos 90
“Molejo é melhor que Iron Maiden”. Não fui eu quem levantou essa bandeira lá no Rock In Rio, mas bem que poderia ser. Contrariando todas as expectativas rasas – e preconceituosas, diga-se de passagem – daqueles que olham para o meu cabelinho metade-chanel-metade-joãozinho e para as minhas tatuagens e me rotulam de ~roqueira~, já adianto: não, não sou roqueira. Uma pena. E sim, me ofendo com o rótulo. Não que eu repudie o rock. Nem que não o ouça – muito pelo contrário. Mas é que atribuir um estilo de vida a uma pessoa se baseando apenas na aparência dela me parece algo um pouco ingênuo, simplista e precipitado. É o mesmo que dizer que, se é lésbica, tem que gostar de Ana Carolina. Ou que, se é negro, tem que ter samba no pé. Ou que, se mora no morro, tem que curtir funk. Evoluamos, meus caros. Ninguém é tão simples que possa ser colocado dentro de uma caixinha rotulada. Sou do samba, sou do forró, sou do frevo. Sou do soul. Sou do rock também, inclusive. Sou da música.
Rotulações e preferências pessoais à parte, o assunto de hoje não sou eu. Nem meu gosto musical. Nem minha paixão pelo Zeca Baleiro. Nem minha bela bunda, nem o fascinante castanho dos meus olhos. Hoje estou aqui para prestar um grande serviço à humanidade e compartilhar cinco lições sobre relacionamentos que podemos aprender com o pagode dos anos 90 – a verdadeira era de ouro da música popular brasileira. Porque independente de qual for a sua ~tribo~, se você nunca curtiu uma fossa pensando “o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?”, me desculpa, mas você não sabe o que é dor. Por mais que você já tenha tomado vinte chutes no saco. Ou parido cinco filhos. Ou tido uma dúzia de pedras no rim. Quem entende de dor é Alexandre Pires, o grande poeta das massas. E Elis Regina. Mas como a minha musa não é do pagode, ela fica pra outro post.
O QUE É QUE EU VOU FAZER COM ESSA TAL LIBERDADE?
Ele andou errado, ele pisou na bola. Não sei qual foi o crime cometido por Alexandre Pires. Só sei que fico penalizada. Mas se é pra sofrer por amor, antes ele do que eu, não é mesmo? A mim, cabe retirar o grande ensinamento: o arrependimento bate, meus caros. E ele é implacável. Você tem seu aconchego, seu lugarzinho no mundo, aqueles braços que servem como abrigo quando o mundo parece ter desabado, aquele peito que explode de felicidade a cada vitória sua. Mas numa sexta à noite, a tentação vem. À cavalo, de Fusquinha 1960 ou via Tinder. Se eu fosse você, antes de ceder a ela, daria um play em “Essa Tal Liberdade”, do SPC. Porque, por mais que você cometa o crime perfeito e sua mentira tenha pernas longas, a consciência suja é o mais cruel inimigo do homem.
EU VOU TE LAMBUZAR DE ÁGUA DE COCO
Comer é bom. Transar é bom. Juntar os dois? É bom demais. Me lambuza de água de coco, de leite condensado, de chantilly, de iogurte. Faz sushi erótico no meu corpo. Porque sexo bom é aquele que dá margem à criatividade e nos deixa à vontade para realizar os fetiches mais bizarros e testar as posições mais impossíveis – por mais que tudo o que vocês consigam é uma bela duma cãibra na virilha. Ou você prefere aquele sexo mecanizado, em que os dois saem limpinhos, sem suor, sem saliva, sem gozo? Deixa disso, menina. Sou seu namorado, vem, vem, quica no danado [sic], vem, vem, vem – como cantava uma amiga muito querida no alto de seus sete anos de idade, enquanto dançava Art Popular featuring João Paulo & Daniel sem censura na sala da casa da avó. Ah, os anos 90…
TE GANHEI NO PAPARICO, MAS TÔ SEM NENHUM…
É aquela velha história do plebeu que se apaixona pela princesa e faz de tudo pra impressionar. Andersããããão arranjou um carro importado, uma beca e um celular. Mas, na verdade, era tudo emprestado. Enquanto Regina Duarte passava um final de semana na Ilha de Caras, ele não tinha nem onde morar – má distribuição de renda manda um abraço. Loucura de amor? Ok, a gente até perdoa. Mas não é muito mais fácil ser sincero desde o princípio? Porque mais dia, menos dia, a verdade vem à tona, meu amigo. E aí, de nada adianta você tê-la conquistado sendo alguém que você não é. Aprenda de uma vez por todas, Andersããããão: a verdadeira nobreza de um homem não está em quantos carros importados ele pode comprar, mas sim em quanta positividade ele carrega no coração.
ESTOU CASANDO, MAS O GRANDE AMOR DA MINHA VIDA É VOCÊ-Ê-Ê
Vavá sempre foi o gatinho do pagode. E ouvi-lo sofrer dói, gente. A gente quer dar um ombro amigo, mas a única coisa que o faz feliz é o verso rabiscado no cantinho do convite de casamento: “estou casando, mas o grande amor da minha vida é você”. A lição? Se você ama, fale. Se gostou dos olhos dela, elogie. Se o achou interessante, chame-o pra uma cervejinha. Se quiser conhecê-la melhor, diga um simples “oi”. Se está com saudade, mande uma mensagem. Pode ser recíproco – por que não? E amanhã pode ser tarde demais. Afinal, já diriam os poetas Gian & Giovanni – os compositores da música: a gente, quando não se assume, fica chorando sem carinho.
Molejão mitando mais uma vez. Sou muito suspeita pra falar dessa canção – esse é o som que embala minhas bebedeiras em qualquer bar que tenha uma boa cachaça e uma jukebox com um repertório, digamos, mais descontraído. Talvez porque essa seja uma lição que eu ainda preciso aprender: a não confiar demais nas pessoas. Aqui, Andersããããão mais uma vez se deu mal: fez serviço de pedreiro, de bombeiro e encanador no apê da moça. Uma pureza de coração. Quando o clima estava esquentando, o marido dela chega, e a coisa fica feia pro lado do nosso querido pagodeiro. Não era amor, era cilada. O ensinamento que podemos tirar dessa verdadeira parábola da desilusão? Que nem tudo o que reluz é ouro. Por isso, evite se apaixonar cegamente por alguém levando em consideração apenas a beleza externa. Beleza interna também conta. Palavra do Molejão.
E você ainda acha mesmo que Iron Maiden é melhor do que Molejão?
Comentar sobre 5 lições que podemos aprender com o pagode dos anos 90